A estrada da serra mal está "completa" e já é motivo de mais alvoroço e dúvida. Trata-se dos projetos de implantação de energia eólica que estão em vias de concretização no alto da Serra da Canabrava. De acordo com agricultores serranos, presentes em reunião da Associação Serrana com prefeito, representante do IMA e sociedade civil uibaiense, trata-se do grupo Casa dos Ventos que busca contratos de arrendamento em pontos estratégicos para implantação de torres com cata-ventos para teste com produção de energia eólica.
De acordo com a própria empresa em seu endereço eletrônico, os projetos de energia eólica são muito, mas muito legais
"A instalação de um parque eólico, no entanto, não gera apenas ótimos recursos financeiros para o proprietário da terra. Além desta remuneração, o projeto traz inúmeros outros benefícios indiretos para a região. Podemos citar, por exemplo, a melhoria das vias e acessos nas localidades, já que isto se faz necessário para o transporte dos equipamentos. Além da melhoria na infra-estrutura, as comunidades serão impactadas positivamente com a geração de emprego e renda, resultando em um maior dinamismo da atividade econômica local. Outros benefícios englobam aspectos como o incentivo ao turismo na região e o aumento da arrecadação do município onde o parque é instalado. Além de todos estes fatores, vale ressaltar um dos benefícios mais importantes, que é o da contribuição ao meio ambiente. A região será responsável pela geração de uma energia ambientalmente responsável e estará evitando a emissão de gases causadores do efeito estufa ou o alagamento de áreas florestais." (Fonte: http://www.casadosventos.com.br/arrendantes. Acessado em 28 de novembro de 2010).
Coisa lindíssima. Os eleitores verdes de Marina Silva agradecem. Afinal, renda, sustentação ambiental, turismo ambiental, etc. Nós, porém, não nos permitirmos tal inocência: deixemos para Sancho Pança. "Não são apenas moinhos de vento".
Trata-se de gigantes. A Casa dos Ventos não é uma ONG de hippies: é um braço de energia eólica do grupo empresarial Albatroz, que atua nos ramos têxtil, financeiro, automobilístico e de construção civil. Era detentor da maior montadora de automóveis do país e atua também no setor imobiliário.
Teremos a convivência agora com grandes grupos empresariais do setor de energia, talvez o mais estratégico que existe. De fato, como a energia eólica, indiscutivelmente superior à energia dos combustíveis fósseis. Todavia, como os grupos populares estarão presentes dentro desse novo projeto de energia? Naturalmente, o grande capital não vai pôr postes com pás para fazer energia limpa. Por trás disso está dinheiro, mas muito dinheiro em jogo.
Sabemos que o capitalismo do carvão mineral possuía uma geopolítica muito diferente do capitalismo do petróleo. O do carvão foi o combustível do neocolonialismo que massacrou populações da África e Ásia. O petroleo moveu duas guerras mundiais e está na raíz das mais estúpidas e truculentas guerras que ainda presenciamos: Iraque e Afeganistão. O Iraque é grande reserva e no Afeganistão está o mais estratégico oleoduto do planeta, o que abastece a China. Agora, por petroleo, o imperialismo cria artificialmente um contexto de tensão sobre Irã, coisa que já havia acontecido com a Venezuela. Sabemos que não há nenhum Che Guevara à frente desses dois países: são regimes nacionalistas que não conseguiram romper com a lógica do capital e continuam mantendo a ordem e sustentando a exploração de seus povos. Mas não é isso que causa aversão nas imprensas. Aliás, a imprensa mercenária só faz o que lhe manda quem paga seu soldo. A Veja ou a Globo nunca denunciará o regime teocrático da Arábia Saudita ou dos Emirados Árabes Unidos, enquanto esses pedirem a benção às grandes empresas petrolíferas, sem nenhum tipo de arremedo de soberania.
Como será o capitalismo dos moinhos de vento? Será que nossa velha Serra da Canabrava será lançada, pelas pás dos gigantes, ao olho do furacão da história mundial e lidaremos diretamente com as grandes empresas? Como se inserem no modelo de energia eólica os interesses populares e a defesa do meio ambiente?
Não se iludam com a "onda verde" das empresas - empresas que por sinal, causam a maior destruição ambiental da história justificada em nome do progresso e do desenvolvimento, ou seja, de lucros extraordinários de meia dúzia de acionistas em detrimento de milhões de pessoas e das novas gerações.
Empresas são empresas, fazendo guerras no Iraque ou assinando contratos na Serra da Canabrava. Trata-se, somente, de uma questão de método necessário.
Não são, pois, apenas moinhos de vento. São gigantes!