21 de mar. de 2010

Programação da IX Seac


No perfil do Orkut da Semana de Arte e Cultura foi divulgada uma prévia da programação. Ainda não é oficial, mas lá vai

Música, dança, poesia, teatro e manifestações tradicionais: GPEC da Quixabeira de Uibaí, Chula da Quixabeira de Uibaí, Encaretados da Chapadinha de Uibaí, Grupos de Dança Afro Quilombolas de Lagoinha e Caldeirão de Uibaí, Quatro Elementos (DF, banda de Dadá Quixabeira), Terno Lamparina (de Eder Ferssan, Clendson Barreto e Bira), Samba Vuá de Uibaí, Zion (Lençóis), Teatro Seu (Uibaí), Grupo Makulelê (Irecê), Retrofoguetes, Raciocínio Lento, Metamundo, Celo Costa, Reisado da Grama de Uibaí.

Oficinas e Vivências:
Origame (Tiú Rocha), Tambores (Eder Fersan), Arte Circense (Kuka Matos), Plantas da Caatinga (Gaguin Ribeiro), História e Geografia Local (Celito Regmendes), Estética Afronegra (Negra Jô - Ssa).

19 de mar. de 2010

Osvaldo Alencar Rocha Presente!


Em junho próximo estará completa uma década sem o militante socialista e advogado popular Osvaldo Alencar Rocha. Sua personalidade já foi motivo de biografia, eventos e artigos publicados no país inteiro. Nada mais merecedor do que uma atividade que resgatasse suas ideias a respeito do Direito e da sociedade brasileira, afinal de contas, homens morrem, mas sua obra e suas ideias permanecem vivas.
Sugestões: uma oficina de Direito Popular realizada por advogados militantes com a finalidade de esclarescer sobre certos direitos e formas de mobilização e luta para realizá-los. Ou mesmo talvez a divulgação de textos do mesmo sobre "Direito encontrado na luta" ou Direito Agrário que motivassem um debate ou mesa redonda.
Cultivar a memória da luta de Osvaldo em defesa de famílias sem-teto, quilombolas, indígenas, posseiros e trabalhadores rurais, numa clara postura de intervenção do Direito na luta de classes é fundamental nesses tempos em que as carreiras profissionais só são medidas em termos de dinheiro e status e não de vocação ou desejo de transformação da realidade.

18 de mar. de 2010

Bié (1885-1946): primeiro poeta uibaiense


Com nome de poeta foi batizado o filho de Luzia Pereira Machado e Antonio Braúna (Antonio Machado Franca) em Canabrava nos idos de 1885: Virgílio. Mas nosso personagem não viveu de seus versos, mas do trabalho duro na agricultura em roça que ficava entre Canoão e Lagoa da Canabrava (atual Presidente Dutra). Casou-se com Ana, com quem teve quinze filhos. Foi como poeta que registrou a passagem da Coluna Prestes por Canabrava em 1926, ocasião em que três "revoltosos" - como os homens de Prestes ficaram conhecidos no nosso trecho - foram mortos e uma moradora de Canabrava foi estrupada e seu irmão foi torturado pelos "gauchos". Houve combate renhido entre canabrabeiros em armas e em represália à recepção "calorosa", todas as casas do arraial foram incendiadas. Bié escondeu sua família na roça no Canoão, a maioria da população foi pras caatingas e serras se esconder. Depois, reconstruiu sua morada na rua Pé do Morro (atualmente rua Severiano Farias) na qual morou até o fim da vida. Foi como poeta que registrou a passagem da Coluna, mas como poeta que ele sabia ser: sarcástico, irônico, bem humorado. Poetizava com alegria e sarcasmo o cotidiano de trabalho duro nas caatingas. Mesmo as secas viraram versos na cachola do poeta sertanejo que cantou

Meu nome é Virgílio
Mas meu apelido é Bié
Em trinta e nove tinha doze burro
E hoje eu ando de pé

Católico era e como bom devoto de Nossa Senhora combateu com seus versos o protestantismo que já estava instalado na região

O Deus dos protestante
é ministro estudado na Ponte Nova
que só crê no Deus-dinheiro
mas na religião não dá as prova
e a lei de Cristo é mais velha
e a de Lutero é mais nova

Não sendo exemplo de tolerância religiosa, ironizou o conservadorismo da época que estabelecia como padrão o casamento monogâmico e a vida retida e monástica que levavam os caatingueiros

Quem casa vive amarrado
como boi no cabeçaio
não adverte pela praça
nem tira o pé do buraio
nem passeia pela rua
pra quê sentença mais crua
eu zango, brigo, raio
vô compra um baraio
vô adverti pela praça
quem não casa tamém passa
sem muié tamem se escapa
quem tem muié tem trabaio

Todavia, como bom agricultor catingueiro, era pragmático que era, o poeta não era de maiores cerimônias. Chico Preto da Velha Vijú (Francisco Justino Machado) agradeceu a visita de Bié em sua casa, ao que foi respondido em versos

Seu Francisco
num agradeça minha visita
porque eu não vim lhe visitar
só vim panhá sias bruacas
pra carregar meu mie
que os priquito tão pra cabá

Transformava até coisas ruins em humor. Humor sarcástico que não poupava mortos e doentes.
Certa vez, colocou-se na posição de Quininho (Constantino Virginio de Carvalho), que contraiu doenças venéreas com Virgínia Lobá em um garimpo, durante a crise de 1939. Tirou "chacota" do próprio cunhado com os seguintes versos

As coisas desse mundo
ninguém possa pensa
eu tava no garimpo
sonhando com minha sinhá
foi quando eu caí na água com febre
foi com Virginia Lobá

Numa peregrinação à Bom Jesus da Lapa, foi a vez de Bié ficar doente. O resultado não foi motivoteve graça nenhuma. O poeta faleceu decorrente de febre tifo.
Todavia, seus versos vivem e se espalham na memória de pessoas em Irecê, P. Dutra, São Gabriel (aonde improvisava versos acompanhado pela viola de Dimas Pereira Rocha, do povoado de Jurema), Central, Itaguaçú e Uibái.
Bié Vive

17 de mar. de 2010

Cultura



Palavra que atualmente compreende mais debate e polêmica do que significado, possui, entretanto, um poder enorme. Poder de mobilizar, de realizar, de organizar. Os antropologos, sociólogos, historiadores, críticos literários e outros estudiosos de um modo geral, ao lado dos sujeitos produtores de cultura e dos militantes da área artístico-cultural, talvez só possuam um consenso: a de a cultura é fundamental para o ordenamento das relações humanas de poder.
Há, entretanto, "boas" e "más" culturas. Na concepção do Movimento Vicente Veloso qualquer "bom" movimento cultural deve ser crítico, inclusivo, saudável, pautado nos valores da democratização, da horizontalidade política, da diversidade cultural. Todo movimento cultural que se converte de forma irrestrita e submissa ao mercado, aos seus valores de produtividade, desempenho, competitividade, resultado, etc. termina necessariamente na massificação, na vulgarização, na inautenticidade e no lugar-comum do da acriticidade e do egoísmo.
O "bom" movimento cultural - que é crítico, combativo, democrático - não pode ter medo de ser marginal, de ser de vanguarda, de ter ousadia. O movimento cultural que se preza não se move no ritmo rápido e superficial do mercado, mas no paulatino e profundo tempo da história.
Oxalá tenhamos mais movimentos assim!

16 de mar. de 2010

Poeta Bié (1885-1946): primeiro poeta uibaiense


ABC dos revoltoso

Agnelo Pereira Machado[1]

Esse foi quem mais sofreu

Alem de todos os incômudo

Que Joaquim[2], seu vizin perdeu

Foi um dia de aflição

Pra tudo quanto era seu


Pedro Joaquim Machado[3]

Disse que num saía

Quando foi na quinta-fêra

Na manhecida do dia

Passeava in sua calçada

Pra ninguém ele ria

Só tava maginano

Pronde é qu’ele curria


Irineu Pereira Machado[4]

Tinha vontade de brigá

Quando revoltoso chegô

Ele quis se acovardá

Deu um treme nas perna

Que num pôde caminha


Irineu Gualberto[5]

Tinha vontade de sê valente

Andava c’um rifle na mão

Brigano com muita gente

Atiro num revoltoso

E baleô foi um tenente


O finado Isaulino[6]

Por sê home destemido

Atiro n’um revoltoso

E foi bem no pé du’ôvido

Por sê um home de fora

Aqui é pôco conhecido


O senhor Eliseu

Sobrenome Gomes Ferreira

Andava c’um rifle na mão

Procurano uma trincheira

Andava sapateano

Feito um bode de bicheira


Antoin Carnudo correu

Nas costa levava um fardo

Era toicin de u’a leitoa

Cinco aroba foi pesado


O véi Virgino curria

Num isquicia da bengala

Chegano incima da serra

Encontro c’um Januara[7]

A pisada deles dois

As pedra do morro abala


Lastimando eu vi muito

Da sorte que Deus lê deu

Isqueceno da muié

João Fulugêncio [8]correu

Dizeno: “num espero por revoltoso

Pois esse num é irmão meu”[9]




[1] Agnelo Pereira Machado, irmão de Irineu, foi uma espécie de organizador da retirada dos moradores.

[2] Joaquim Pereira Bastos, o Joaquim Magro, era vizinho de Agnelo. Fabricava telhas e ladrilhos. Relatos mostram que durante a retirada perdeu-se dos demais.

[3] Pedro Joaquim Machado, pai de Olga, era comerciante de tecidos, sua loja ficava onde hoje é a casa de dona Olga. Foi incendiada na passagem dos Revoltosos. Segundo João de Guidu, “se ele tivesse pedido ajuda para levar os tecidos até um lugar seguro não teria perdido tudo”.

[4] Irineu Pereira Machado era agricultor e poeta. Também criou um ABC dos Revoltosos

[5] Irineu Gualberto, filho de João Gualberto, morou no Caldeirão. Era da família de Cadete. Morou muito tempo nos Patos, em Ibititá.

[6] Pouco se sabe sobre este que, ao lado de Irineu e Zé Domingos, combateu os revoltosos durante a ocupação.

[7] Januária era esposa de “Anjo (Ângelo) Pé de Facão”.

[8] João Fulugêncio Machado matava porcos para vendê-los.

[9] Essa última estrofe somente foi lembrada por João de Guidú. As demais ficaram registradas na memória de Isabel Carvalho Machado, filha de Bié, recolhidas numa entrevista em P. Dutra (31/05/03).

15 de mar. de 2010

IX Semana de Arte e Cultura



A confirmação do financiamento da Petrobras e do Banco do Nordeste, a escolha da logomarca do movimento (na foto acima) deixaram um ar de ansiedade. A data já está marcada, mas a curiosidade sobre como será a programação do evento é grande. Sabe-se que começa à noite, quarta, e termina no domingo. Pelo costume, serão 4 dias e 5 de programação. Mas qual? A divulgação precisa andar mais rápido.
No mais, ficamos aguardando mais novidades do movimento.

13 de mar. de 2010

QUAL AGRICULTURA?




A região de Irecê, embora ostente um setor de serviços forte e algumas iniciativas industriais, é fundamentalmente agrária. Todavia, há agriculturas. Temos a empresa capitalista de pequeno e médio porte onde há um patrão (proprietário ou arrendatário) e empregados (os trabalhadores macaqueiros, tratoristas, técnicos, motoristas e alguns permanentes) que produzem para o mercado (agricultura comercial) e com uso de uma razoável tecnologia (assistência técnica, máquinas, agrotóxicos, sementes Geneticamente Modificadas). Temos, porém, uma agricultura camponesa (familiar) que usa largamente do saber popular tradicional, de formas tradicionais de solidariedade (adjunto ou mutirão), do trabalho familiar e a produção reparte-se em comercialização e consumo.
1) Não se trata de uma agricultura moderna aqui e uma atrasada acolá. À beleza da solidariedade camponesa – quando ela há – não pode ser comparada à frieza da relação assalariada. Todavia, também não é uma oposição entre maldade moderna e bondade tradicional, entre bem e mal. Isso seria romantismo. Ambas apresentam seus problemas e, quando não se pode falar em virtudes, ao menos é possível falar sobre potencialidades.
O (ab)uso e a destruição da capacidade produtiva da terra e da água é uma delas, sendo que a agricultura comercial destrói em maior escala do que a agricultura camponesa. Os municípios de Irecê, P. Dutra, João Dourado e Lapão não possuem praticamente mata original e isso gera um desequilíbrio ambiental cujos resultados são morte dos riachos, baixões, rios e lençóis, desertificação da terra, pragas, doenças, extinção de diversas espécies de animais e plantas, etc. O filósofo revolucionário alemão, Karl Marx já alertava no século XIX que “todo aumento da fertilidade da terra num tempo dado significa esgotamento mais rápido das fontes duradouras dessa fertilidade” (O Capital, livro 1, p. 571)
A agricultura camponesa quando em condições favoráveis mantém uma espécie de “reserva” com fins econômicos: extração de mel nativo, plantas medicinais e lenha. Porém, quando ela acontece em péssimas condições, como é o caso da agricultura camponesa na Serra Azul, a devastação é grande.
A tecnologia a serviço da agricultura pode elevar a capacidade produtiva da agricultura tornando desnecessário o uso de todas as terras possíveis e possibilitando a preservação da natureza sem prejuízos na produção de alimentos. Porém, o uso racional da tecnologia na produção agrícola não pode ser feita dentro de uma economia cujo principal objetivo é o lucro, mas sim em uma economia onde o objetivo da produção é a satisfação das necessidades humanas, portanto, em uma economia socialista. Marx dizia que “A produção capitalista (...) só desenvolve a técnica e a combinação do processo social de produção, exaurindo as fontes originais de toda a riqueza: a terra e o trabalhador”
2) Ambas são capitalistas. Marx qualificou o capitalismo como o modo de produção no qual os produtores (trabalhadores) estão separados dos meios de produção de tal modo que necessitam vender sua capacidade de trabalhar (força de trabalho) ao dono dos meios de produção que lhe extrai mais-valia: ou seja, o patrão vive do trabalho não-pago do trabalhador. A agricultura comercial é desse modo: há alguns produtores de pinha que tem cerca de 500 empregados entre temporários e permanentes.
A agricultura camponesa está submetida à exploração do capital. Não obstante sua condição de proprietário, os camponeses detém apenas a propriedade formal da terra: não detém a decisão do que vai produzir e geralmente é impelido pelo crédito ou pelo mercado reduzido de produto; não pode negociar em condições de igualdade com o atravessador o preço de sua mercadoria; não detém uma renda muito superior a um trabalhador assalariado, possuindo vantagem em relação a este, a gestão do trabalho. Por conta dessa subsunção ao capital, o camponês é explorado pelo crédito (bancos), pelos impostos (Estado) e pelo mercado (atravessadores).
3) No tocante à organização dos trabalhadores, temos uma situação bastante complicada. Os sindicatos dos trabalhadores rurais não tem desempenhado um trabalho de educação política do povo, limitando-se ao terreno da economia. Porém, ao contrário do que se diz, os mesmos não desenvolvem uma prática assistencialista. O assistencialismo é uma relação onde um dá e um recebe, onde há um benfeitor e um desassistido (sem assistência). Como podem os trabalhadores rurais – verdadeiros mantenedores do STR através do imposto sindical- serem ao mesmo tempo benfeitores e dessassistidos? Trata-se, todavia, de tarefas beneficentes que historiadores chamam de mutualismo ou auxílio mútuo. Excluídos de uma saúde privada cara, sem saúde pública de qualidade, os trabalhadores rurais conseguem uma alternativa para ter acesso a médicos, remédios, dentistas e, sobretudo, direitos previdenciários (aposentadoria rural).
As associações são um enigma: aparecem aqui e acolá, como lodo, e tão fácil como aparecem, somem, sem maiores resultados concretos. Algumas delas têm obtido notável sucesso (sobretudo em Caldeirão). São importantíssimas, pois são excelentes meios de melhoria da vida dos trabalhadores e do fortalecimento de uma subjetividade comunitária que valoriza a coletividade e a solidariedade. Muito facilmente, porém, se tornaram instrumentos de controle político dos pobres por chefes municipais (vide o número de vereadores que já foram presidentes de associação em povoados e vila).
O cooperativismo tem sido uma prática bastante estimulada por setores da esquerda e, embora alguns exagerem dizendo ser “a” saída para a sociedade da exclusão social e do egoísmo, não se pode negar a sua importância e necessidade. As mesmas são carregadas de contradições, tal qual a sociedade que a gera. Porém, quando são experiências de organização autônoma dos trabalhadores podem ensinar bastante sobre a força da organização, a falta da necessidade de patrões e a possibilidade de uma sociedade sem exploração, baseada na cooperação coletiva. “Com atos e não com argumentos, prova-se que a produção em grande escala e harmonizada com as exigências da ciência moderna, pode se efetuar sem que uma classe de patrões empregue uma classe trabalhadora; e que os meios de produção, para darem frutos, não necessitam ser monopolizados para explorar e dominar o trabalhador; e que o trabalho assalariado – assim como o trabalho dos escravos e dos servos – é somente uma forma transitória e inferior destinada a desaparecer ante o trabalho associado, que executa sua tarefa com gosto, interesse e alegria” (Karl Marx, Sindicalismo).
Como combinar o que há de interessante na tradição – o adjunto ou mutirão, a solidariedade, o conhecimento tradicional – que pode ser integrada com o que há de interessante na modernidade – tecnologia, maquinário, cooperação complexa do trabalho – de modo a obter os melhores resultados para a satisfação das necessidades da comunidade rural? Será mais interessante a modernização capitalista e a formação de fazendas onde poucos patrões exploram muitos diaristas? Ou será que a saída para essa sociedade desigual não passa pela organização independente dos camponeses e na formação de cooperativas?

10 de mar. de 2010

REPRODUÇÃO DA MISÉRIA


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Ao vender o voto, aceitando o favor ou recebendo o beneficio, geralmente compleido sob coação das circunstâncias de pobreza, miséria decoorrentes da injustiça social reinante para o trabalhador, o mesmo recria a própria pobreza, a própria desassistencia, a própria dependência. Ao vender sua posição política, tornada mercadoria, o mesmo dá o nó na corda que o faz cativo. Vejamos, pormenorizadamente, duas coisas: como a venda de votos e posição política é a relação que tem sua base na transformação do voto em mercadoria; como a ação de vender votos produz as condições de sua própria reprodução.

O Estado em sua atuação é um instrumento que produz a não-cidadania. O mesmo veda todas as formas de participação democrática dos “cidadãos” pobres através de sua burocracia, do sucateamento da saúde, da educação públcias, da sua política de repressão policial e criminalização da pobreza, dos negros e da corrupção. O Estado produz não cidadãos e cria diversos meios de desorganiza-los, impedindo-os de estes fazerem-se cidadãos.

Alienados da política, o voto não é mais, para o não-cidadão, um modo de participação política e democrática. O voto, para esse individuo, perde seu valor-de-uso, sua utilidade, sua finalidade. Para si mesmo, o voto não tem nenhuma serventia.

Na outra face dessa moeda, compondo a relação, estão os representantes da pequena burguesia agro-comercial que parasitam o Estado para garantirem seus negócios. Os representantes necessitam de votos para manterem-se ou tornarem-se eleitos pelos cidadãos, investidos de poderes para os cargos públicos. Uma vez lá, os mesmos enriquecem licita ou ilicitamente, seja através do beneficiamento próprio – licitando obras para empresas de amigos, comprando alimentos para a merenda, material escolar para as escolas ou materiais de construção para as obras em estabelecimentos de parentes, com ou sem notas frias. Os votos cidadãos dos trabalhadores pobres são muito úteis para os políticos. “Um objeto útil só pode se tornar valor-de-troca depois de existir como não-valor-de-uso, e isto ocorre quando a quantidade do objeto útil ultrapassa as necessidades do seu possuidor” (MARX, 2006, p. 112).

Desse modo, estabelece-se uma relação mercantil entre político e cidadão eleitor, dois velhos amigos, fetichização para representantes da pequena burguesia e trabalhadores, ou personificação local de capital e trabalho. Uma vez mercantilizada a eleição e o voto, há uma alienação da política do cotidiano dos trabalhadores e a eleição torna-se um pretexto para obter-se favores, que trata-se de redistribuição dos custos de reprodução da força de trabalho e aparece à população, filtrado pelos intelectuais da situação, como trabalho social.

A despolitização das eleições concluída, os trabalhadores, desassistidos e com sua cidadania sabotada pelo Estado, procuram nos políticos um substituto para o que seria um direito social ou uma política pública. Cria-se a oferta de votos e apoio político. Os políticos uma vez empossados, enquanto prepostos e agentes locais do Estado, necessitam de votos e, na exclusão dos direitos sociais através do favorecimento pessoal e dos seus representantes de classe e através da corrupção. Eles precisam desfazer qualquer direito social, tornar ineficaz qualquer serviço público de saúde, educação ou assistência para fortalecer-se pessoalmente através da substituição do Estado no fornecimento de assistência, saúde e empregos para conseguirem votos.

Sem direitos sociais do Estado, sem cidadania, os trabalhadores pobres tornam-se dependentes de favores pessoais de políticos. Sem favores pessoais e trabalho social os políticos não chegam, nem permanecem no poder. O trabalhador não tem cidadania, vende seu voto e torna-se dependente do político. O político exclui da cidadania o trabalhador, torna-o dependente para comprar-lhe o voto e permanece no poder. O trabalhador precisa do trabalho social do político porque é pobre e porque não tem acesso a serviços públicos ou regionais de qualidade de saúde, etc. e para isso dá o seu voto. O político precisa fazer com que o trabalhador precise dele e para isso o exclui da cidadania. Tal qual quando vende seu força de trabalho, ao vender o voto para políticos diversos “A ilusão de sua dependência se mantém pela mudança continua de seus patrões e com a ficção jurídica do contrato” (MARX, 2006, p. 669). Tal qual quando vende sua força de trabalho, o trabalhador, ao vender seu voto, reproduz as condições que o impelem à vender-se. Quando aceita o “trabalho social”, o “favor”, o trabalhador cria a necessidade de vendê-lo novamente: “todo processo social de produção, encarado em suas conexões constantes e no fluxo continuo de sua renovação, é, ao mesmo tempo, processo de reprodução” (MARX, 2006, p. 661).

Desse modo, impelido pela pobreza a vender o voto, o trabalhador produz sua pobreza e a necessidade de vender o voto novamente. Para ser eleito e para permanecer no poder, o político precisa fazer trabalho social e excluir os trabalhadores de sua cidadania, de seus direitos sociais. Tal qual corrente, esse circulo vicioso aprisiona os trabalhadores. Tal qual corrente, é preciso quebrar-lhe um dos elos.

Referências

MARX, Karl. O Capital. Crítica da economia política. Livro 1. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006.

IX Semana de Arte e Cultura



Acontecerá nos dias 31 de março, 1, 2, 3 e 4 de abril. O projeto da mesma prevê uma programação diversificada, visando integrar variedades de produção artística não-massiva com produção cultural tradicional do território. Em suma, pretende ser um evento de cultura popular, ao contrário dos tantos eventos festivos que temos nos quais se divulga uma cultura "pop" de mercado, produzida nas mesas de empresários e de artistas ansiosos por enriquecerem e ficarem na mídia a qualquer custo. Em contraponto, a Semana de Arte e Cultura pretende trazer artistas que fazem uma "arte pela arte", engajada politicamente ou não, mas que nesses tempos sombrios de mercado e de "rebolation", nos ajudam a sair do mar de banalidade. Que seja bem-vinda! Até São Pedro está colaborando para um bom evento enchendo com água as nossas tão sofridas fontes e boqueirões.

9 de mar. de 2010

Meio Ambiente


O meio ambiente é um tema que tem sido cada vez mais relevante. O Movimento Vicente Veloso, inclusive, na discussão de sua criação chegou a ser formulado como um grupo ecosocialista, embora no decorrer do processo, as demandas do mesmo se ampliaram.
Isso pelo fato de entendermos que o Meio ambiente é um debate político. Não podemos nos limitar a iniciativas isoladas e a atividades "ecologistas" como mutirões de limpeza, plantio de árvores, ou até mesmo uma "conscientização verde". Devemos sim participar desse tipo de iniciativas, mas também construir uma alternativa de poder popular anticapitalista. Esse novo poder deve ser totalmente diferente da aberração chamada "socialismo real" que não era nada socialista e parecia surreal.
Enquanto estivermos dentro das fronteiras da sociedade do capital, na qual o mais importante é a acumulação de riqueza e a geração de lucro, estamos fadados a destruir a vida humana e as fontes da mesma. Ecologia só é possível se for anticapitalista.

3 de mar. de 2010

1º Fórum do Movimento Estudantil de Uibaí



Imagem do Fórum do Movimento Estudantil de Uibaí. Um dos debates travados no domingo foi o de necessidade de regulamentação da lei de assistência estudantil. Dois grupos de trabalho (GTs) discutiram isso:
um debateu as formas de contrapartida social a serem realizadas pelos beneficiários da lei que são os estudantes universtiários que receberão ajuda individual, os residentes de Casas dos Estudantes de Uibaí, os usuários do transporte para Irecê para estudantes de nível superior e os pré-vestibulandos. Essa contrapartida será feita através de projetos coordenados por organizações governamentais e não-governamentais nas áreas de cultura, educação, esporte e saúde.

O outro debateu a necessidade de definição do que é o "estudante de baixa renda" que será beneficiado pela lei através de ajuda individual em locais onde não é possível a formação de casa dos estudantes de Uibaí. Assim, como também debateu a definição do que é considerado "necessidade básica de sobrevivência e estudo". Após um longo debate, estabeleceu-se um consenso prévio de que, embora as peculiaridades em cada região dificultem a definição do que são essas necessidades, entendeu-se por elas: moradia, luz, água, alimentação, funcionário com encargos trabalhistas para alimentação, internet e assinatura de jornal e revista. Surgiu a necessidade urgente de se trabalhar em cima do Orçamento Anual do município.

1 de mar. de 2010



Manifestação a favor da Assistência Estudantil. 06/05/2005

1º Fórum do Movimento Estudantil de Uibaí

Aconteceu no domingo (28/02/2010) o 1º Fórum do Movimento Estudantil de Uibaí com a participação de mais de 50 pessoas da sociedade civil uibaiense, entre eles, residentes, ex-residentes de Casas de Estudantes de Uibaí (CEU, CEUBRAS, CEUJAC, CEUFSA), estudantes secundaristas e estudantes universitários da região, assim como trabalhadores, servidores municipais e outros. Foram discutidos temas como a história do movimento estudantil de Uibaí, a regulamentação da lei de assistência estudantil, a reorganização e reforma do estatuto da Aeusu, a criação de um grêmio estudantil no Colégio Manoel Levi e a criação de formas de contrapartida social dos estudantes beneficiados pela lei de assistência estudantil. Durante todo o dia, com participação ativa dos presentes, o Fórum foi altamente satisfatório e resultou em inúmeras iniciativas.