Acima: Zequinha e Lamarca mortos em Pintadas (Ipupiara) pela ditadura militar. Abaixo: José Campos Barreto.
Tem coisas que são bastante curiosas. Um representante de uma família numerosa da região de Irecê, oriunda do Assuruá, que esteve no centro dos acontecimentos da história do país durante uma década, é alvo de homenagem de trabalhadores e intelectuais de outras regiões do país e é um desconhecido para muita gente, em especial a juventude, de sua própria região.
Desconhecer a história de José Campos Barreto, mais conhecido como Zequinha Barreto, é não só uma curiosidade, mas também um dever cidadão não só de cada uibaiense, brotense, ireceense, catingueiro, mas brasileiro em geral.
Líder operário, estudantil, esteve no centro dos acontecimentos da greve de Osasco de 1968, a maior expressão de resistência dos trabalhadores à ditadura civil-militar no auge de sua repressão. Quando todas as vias legais de atuação, como os sindicatos, a imprensa, os partidos, o parlamento e as próprias ruas estavam fechadas para a manifestação democrática do povo, ele não se fez de rogado. Ao lado de seus companheiros do Movimento Revolucionário 8 de Outubro - data da morte de Che Guevara - foi organizar o povo camponês pobre e humilhado do serão.
De volta à sua terra, Buriti Cristalino, um pequeno povoado de Brotas de Macaúbas, ao lado dos irmãos, Otoniel e Olderico, do feirense Luís Antônio Santa Bárbara, de João Lopes Salgado e do Capitão Carlos Lamarca, inicia um trabalho político junto aos camponeses. A repressão foi implacável.
Conhecer a história de Zequinha Barreto é de fundamental importância. Exemplo de luta, de resistência. Em especial em tempos em que prostitutas da ditadura como o deputado fluminense Jair Bolsonaro diz que no tempo dos ditadores era bom, é preciso lembrar do exemplo de lutadores do povo.
Abaixo, um trecho do livro "José Campos Barreto" do Instituto Zequinha Barreto de Osasco e o link para o livro completo e outros materiais.
"O cerco do delegado torturador
Em 28 de agosto de 1971, o temido delegado da repressão, Sérgio Paranhos Fleury e seus comandados, cercam a cidade de Brotas de Macaúbas e invadem a casa da família Barreto, atirando com fuzis e metralhadoras. Olderico é ferido gravemente na mão e na cabeça. É feito prisioneiro, juntamente com seus irmãos. Outros são assassinados.
O pai, José Barreto, um homem idoso, é barbaramente torturado para entregar o local de esconderijo de Zequinha e do Capitão Lamarca.
Vendo a cena, outro irmão, Otoniel se desespera pelo sofrimento do pai e decide fugir. Apodera-se de uma arma, dispara contra os soldados e tenta correr em direção ao esconderijo para alertar o irmão e Lamarca, mas é ferido mortalmente com um tiro na cabeça.
Segundo reportagem da revista ‘Veja’, de 25/04/1979, citada no livro de Orlando Miranda, “desde esse dia (28/ 8/71) e até a morte de Lamarca e Zequinha, Buriti viveu um rigoroso ‘estado de sítio’. Ninguém podia sair de casa após as 18 horas. Durante o dia, quem saísse era seguido, do alto, por um helicóptero; se entrava em alguma casa da redondeza, o helicóptero baixava, descarregava policiais armados e iniciava-se o interrogatóro.
O inusitado da situação tomava formas diferentes nesse pedaço de sertão baiano. A cinco quilômetros de Buriti, por exemplo, o jegue de um sertanejo não cumpriu de pronto a ordem de parar, dada por seu dono em obediência aos policiais, e estes metralharam o jegue, pa gando depois uma indenização de 50 cruzeiros.
Em Brotas de Macaúba, na mesma época, o Juiz de Direito proibiu que o sistema de alto-falantes ‘Constelação’ tocasse
a música ‘E agora, José’, composta pelo baiano Paulo Diniz a partir de versos de Carlos Drummond de Andrade.
Temia-se que aumentasse, entre a população, a lembrança do Zequinha”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário