Agnelo Pereira Machado[1]
Esse foi quem mais sofreu
Alem de todos os incômudo
Que Joaquim[2], seu vizin perdeu
Foi um dia de aflição
Pra tudo quanto era seu
Pedro Joaquim Machado[3]
Disse que num saía
Quando foi na quinta-fêra
Na manhecida do dia
Passeava in sua calçada
Pra ninguém ele ria
Só tava maginano
Pronde é qu’ele curria
Irineu Pereira Machado[4]
Tinha vontade de brigá
Quando revoltoso chegô
Ele quis se acovardá
Deu um treme nas perna
Que num pôde caminha
Irineu Gualberto[5]
Tinha vontade de sê valente
Andava c’um rifle na mão
Brigano com muita gente
Atiro num revoltoso
E baleô foi um tenente
O finado Isaulino[6]
Por sê home destemido
Atiro n’um revoltoso
E foi bem no pé du’ôvido
Por sê um home de fora
Aqui é pôco conhecido
O senhor Eliseu
Sobrenome Gomes Ferreira
Andava c’um rifle na mão
Procurano uma trincheira
Andava sapateano
Feito um bode de bicheira
Antoin Carnudo correu
Nas costa levava um fardo
Era toicin de u’a leitoa
Cinco aroba foi pesado
O véi Virgino curria
Num isquicia da bengala
Chegano incima da serra
Encontro c’um Januara[7]
A pisada deles dois
As pedra do morro abala
Lastimando eu vi muito
Da sorte que Deus lê deu
Isqueceno da muié
João Fulugêncio [8]correu
Dizeno: “num espero por revoltoso
Pois esse num é irmão meu”[9]
[1] Agnelo Pereira Machado, irmão de Irineu, foi uma espécie de organizador da retirada dos moradores.
[2] Joaquim Pereira Bastos, o Joaquim Magro, era vizinho de Agnelo. Fabricava telhas e ladrilhos. Relatos mostram que durante a retirada perdeu-se dos demais.
[3] Pedro Joaquim Machado, pai de Olga, era comerciante de tecidos, sua loja ficava onde hoje é a casa de dona Olga. Foi incendiada na passagem dos Revoltosos. Segundo João de Guidu, “se ele tivesse pedido ajuda para levar os tecidos até um lugar seguro não teria perdido tudo”.
[4] Irineu Pereira Machado era agricultor e poeta. Também criou um ABC dos Revoltosos
[5] Irineu Gualberto, filho de João Gualberto, morou no Caldeirão. Era da família de Cadete. Morou muito tempo nos Patos, em Ibititá.
[6] Pouco se sabe sobre este que, ao lado de Irineu e Zé Domingos, combateu os revoltosos durante a ocupação.
[7] Januária era esposa de “Anjo (Ângelo) Pé de Facão”.
[8] João Fulugêncio Machado matava porcos para vendê-los.
[9] Essa última estrofe somente foi lembrada por João de Guidú. As demais ficaram registradas na memória de Isabel Carvalho Machado, filha de Bié, recolhidas numa entrevista em P. Dutra (31/05/03).
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