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Ao vender o voto, aceitando o favor ou recebendo o beneficio, geralmente compleido sob coação das circunstâncias de pobreza, miséria decoorrentes da injustiça social reinante para o trabalhador, o mesmo recria a própria pobreza, a própria desassistencia, a própria dependência. Ao vender sua posição política, tornada mercadoria, o mesmo dá o nó na corda que o faz cativo. Vejamos, pormenorizadamente, duas coisas: como a venda de votos e posição política é a relação que tem sua base na transformação do voto em mercadoria; como a ação de vender votos produz as condições de sua própria reprodução.
O Estado em sua atuação é um instrumento que produz a não-cidadania. O mesmo veda todas as formas de participação democrática dos “cidadãos” pobres através de sua burocracia, do sucateamento da saúde, da educação públcias, da sua política de repressão policial e criminalização da pobreza, dos negros e da corrupção. O Estado produz não cidadãos e cria diversos meios de desorganiza-los, impedindo-os de estes fazerem-se cidadãos.
Alienados da política, o voto não é mais, para o não-cidadão, um modo de participação política e democrática. O voto, para esse individuo, perde seu valor-de-uso, sua utilidade, sua finalidade. Para si mesmo, o voto não tem nenhuma serventia.
Na outra face dessa moeda, compondo a relação, estão os representantes da pequena burguesia agro-comercial que parasitam o Estado para garantirem seus negócios. Os representantes necessitam de votos para manterem-se ou tornarem-se eleitos pelos cidadãos, investidos de poderes para os cargos públicos. Uma vez lá, os mesmos enriquecem licita ou ilicitamente, seja através do beneficiamento próprio – licitando obras para empresas de amigos, comprando alimentos para a merenda, material escolar para as escolas ou materiais de construção para as obras em estabelecimentos de parentes, com ou sem notas frias. Os votos cidadãos dos trabalhadores pobres são muito úteis para os políticos. “Um objeto útil só pode se tornar valor-de-troca depois de existir como não-valor-de-uso, e isto ocorre quando a quantidade do objeto útil ultrapassa as necessidades do seu possuidor” (MARX, 2006, p. 112).
Desse modo, estabelece-se uma relação mercantil entre político e cidadão eleitor, dois velhos amigos, fetichização para representantes da pequena burguesia e trabalhadores, ou personificação local de capital e trabalho. Uma vez mercantilizada a eleição e o voto, há uma alienação da política do cotidiano dos trabalhadores e a eleição torna-se um pretexto para obter-se favores, que trata-se de redistribuição dos custos de reprodução da força de trabalho e aparece à população, filtrado pelos intelectuais da situação, como trabalho social.
A despolitização das eleições concluída, os trabalhadores, desassistidos e com sua cidadania sabotada pelo Estado, procuram nos políticos um substituto para o que seria um direito social ou uma política pública. Cria-se a oferta de votos e apoio político. Os políticos uma vez empossados, enquanto prepostos e agentes locais do Estado, necessitam de votos e, na exclusão dos direitos sociais através do favorecimento pessoal e dos seus representantes de classe e através da corrupção. Eles precisam desfazer qualquer direito social, tornar ineficaz qualquer serviço público de saúde, educação ou assistência para fortalecer-se pessoalmente através da substituição do Estado no fornecimento de assistência, saúde e empregos para conseguirem votos.
Sem direitos sociais do Estado, sem cidadania, os trabalhadores pobres tornam-se dependentes de favores pessoais de políticos. Sem favores pessoais e trabalho social os políticos não chegam, nem permanecem no poder. O trabalhador não tem cidadania, vende seu voto e torna-se dependente do político. O político exclui da cidadania o trabalhador, torna-o dependente para comprar-lhe o voto e permanece no poder. O trabalhador precisa do trabalho social do político porque é pobre e porque não tem acesso a serviços públicos ou regionais de qualidade de saúde, etc. e para isso dá o seu voto. O político precisa fazer com que o trabalhador precise dele e para isso o exclui da cidadania. Tal qual quando vende seu força de trabalho, ao vender o voto para políticos diversos “A ilusão de sua dependência se mantém pela mudança continua de seus patrões e com a ficção jurídica do contrato” (MARX, 2006, p. 669). Tal qual quando vende sua força de trabalho, o trabalhador, ao vender seu voto, reproduz as condições que o impelem à vender-se. Quando aceita o “trabalho social”, o “favor”, o trabalhador cria a necessidade de vendê-lo novamente: “todo processo social de produção, encarado em suas conexões constantes e no fluxo continuo de sua renovação, é, ao mesmo tempo, processo de reprodução” (MARX, 2006, p. 661).
Desse modo, impelido pela pobreza a vender o voto, o trabalhador produz sua pobreza e a necessidade de vender o voto novamente. Para ser eleito e para permanecer no poder, o político precisa fazer trabalho social e excluir os trabalhadores de sua cidadania, de seus direitos sociais. Tal qual corrente, esse circulo vicioso aprisiona os trabalhadores. Tal qual corrente, é preciso quebrar-lhe um dos elos.
Referências
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