5 de dez. de 2010

Coronelismo, tráfico de drogas e preconceito regional?






















Acima: Fernandinho Beira-Mar, símbolo do tráfico de drogas nas favelas cariocas e Horácio de Matos no famoso Convênio de Lençóis, em 1920, maior representativo do coronelismo na Chapada Diamantina.


Quando se quer esteriotipar o nordestino, sobretudo o sertanejo, sem querer usar argumentos racistas - "cabeça chata", quase que por natureza "raquítico" e "pequeno" - e até passar por dono de um discurso sociológico, nada melhor do que apelar para o "coronelismo". Afinal, essa prática de chefes locais ultrapoderosos, donos de tudo e de todos, usuários de práticas clientelistas, mandonistas, até mesmo de grupos paramilitares, são uma vergonha, uma mancha na história do país que teria, supostamente, sobrevivido até hoje nos "grotões": pode ser uma boa Bahia - dá-lhe ACM - um Ceará, um Pernambuco, mas serve também para um Mato Grosso, um Goiás e um Amapá, afinal, é tudo fora do Sul-Sudeste, mesmo.
Curiosamente, quando vamos analisar com mais precisão os argumentos do "coronelismo", próprios de cidades de interior atrasadas, em especial, as nordestinas, vemos que o conceito não se sustenta. Coronelismo moderno é um termo que serve para tudo e para todos. Um termo vago, sem sentido algum, que é ótimo, todavia, para fundamentar um discurso pobre em análise de realidade, mas bastante eficaz, quando se quer taxar o adversário de sinônimo de atraso, autoritarismo, arrogância, perseguição, violência.
Vamos às matrizes teóricas e não conseguimos ver grande coisa também. Victor Nunes Leal, um jurista carregado de preconceito, generaliza uma análise institucional de meia-dúzia de leis, mistura com sua experiência de juiz no interior de São Paulo e propõe a ideia de um sistema coronelista que é uma anomalia social e paradoxal, pois é a sobrevivência do atraso.

A tentativa de dar criticidade ao conceito de coronelismo feita por outros cientistas sociais como Maria Isaura Pereira de Queiroz, José de Souza Martins e Eul-Soo Pang fracassa: sempre o coronelismo é um sistema homogeneo que inclui tanto o coronel-bacharel que pratica a eleição no voto de cabresto, quanto o coronel0-jagunço que simplesmente falsificava as atas eleitorais em eleições de bico-de-pena e decidiam as suas rixas políticas na boca do papo-amarelo - o apelido carinhoso de alguns rifles de repetição.

E mais curioso ainda é associar práticas tradicionalmente "coronelistas" como típicas de "grotões" do interior, como a Chapada Diamantina e o São Francisco, berço de ilustres coronéis, conhecidos internacionalmente, como Franklin Lins de Albuquerque, Horácio de Matos e Marcionilio José de Souza. Porém, algumas coisas muito semelhantes, como as organizações criminosas de favelados no Rio de Janeiro, são coisas muito, mas muito modernas, representando um defeito do que há de mais moderno. Quando observamos, porém, algumas características, será que são tão diferentes assim?

Manutenção do poder com base na força paramilitar, conflito com o Estado, construção de um poder paralelo, opressão da população, perseguição, uso da violência... Será que quando isso acontece no Nordeste é coronelismo e quando acontece no Rio de Janeiro é crime organizado? Um atrasado e outro moderno? ambos negativos. Faz lembrar a crítica feita nos meios internéticos à análise dos jornalistas da mídia sobre o deputado federal mais votado do Brasil: Tiririca. De acordo com os críticos, se fosse em algum Estado do norte-nordeste, seria "manifestação do atraso, da burrice e da ignorância" do povo nordestino. Mas como é São Paulo, é "voto de protesto".

Nordeste e Sudeste produzem juntos uma política muito semelhante. Basta ver que, desde o fim da ditadura, a maioria dos presidentes foram nordestinos - Sarney do Maranhão, Collor de Alagoas, Lula de Pernambuco - mas tinham poderosas bases de poder no Sudeste. A diferença é que no Sudeste, a construção da identidade de "moderno", "dinâmico" e "trabalhador" passa pelo discurso de alteridade e negação do outro, o nordestino, que seria o "atrasado", o "ignorante", o "preguiçoso".

Um comentário:

  1. ótima tradução sobre esse preconceito(quase que cultural no sudeste),imposto sobre nós nordestinos...

    OBS:sempre que clico no endereço do mvive,tenho uma certa expectativa de que vou aprender mais um pouco,e assim tem sido.valeu MVIVE!!!!

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