31 de out. de 2011

Escola, tetro, jornal: as armas dos revolucionários


Luís Antonio Santa Bárbara e os irmãos Zequinha, Olderico e Otoniel Barreto desenvolviam discussões políticas com camponeses da região. Produziram um jornal mimeografado chamado Luta camponesa. Organizam uma “Assembleia Popular” em Buriti para discutir a realização de uma “benfeitoria” através de um adjunto (mutirão). O objetivo desse mutirão era demonstrar “na prática” que “com o povo unido, se consegue muita coisa”, segundo Lamarca.

O capitão Lamarca, escondido num boqueirão na serra, estava bastante empolgado com o trabalho desenvolvido por Zequinha, Olderico, Otoniel e Santa Bárbara. Angustiava-se pelo isolamento, mas não o questionava. Nas suas cartas, mostrava satisfação com “a coletivização”, já que “colocamos em prática a moral revolucionária”. Essa “coletivização” de recursos como comida e material não era uma prática exclusivamente esquerdista e estava arraigada no comunitarismo camponês da região, baseada em preceitos cristãos e tradições indígenas. Lamarca não reclamava: “a minha prática me exige sacrifícios para os quais não espero compreensão paternalista, nem comiseração a Revolução me exige isso e eu quero fazer a Revolução”.

“Inicia – escreveu Lamarca em carta para Iara Iavelberg – com um companheiro a organização de um teatrinho que escrevi os textos ele já está ensaiando com uma turma e a massa está apoiando (...) chegará o dia em que participarei junto com a massa – educando, politizando, sofrendo, vencendo”. No 5 de agosto, o capitão registra que já iniciou o “ensaio do teatro”. As crianças “saem repetindo pela rua, já decoraram tudo”. Apesar da discrição e da cautela, ele não deixa de “dar conteúdo político” ao “teatro camponês”, ainda visto como uma experiência e com várias ideias para novos temas e símbolos.

Lamarca já sabia – e certamente Zequinha também – que o comunitarismo camponês da região podia ser a base para um movimento revolucionário. Em entrevista dada em junho de 1970, o mesmo afirmava que no campo “existe todo um passado de luta e de organização do trabalhador rural, que a classe dominante omite na nossa história”.

Lamarca também chamava atenção para o papel das mulheres na luta. Escreveu que a “preocupação, e respeito com a mulher que o camponês tem demonstrado, neste aspecto é superior ao operário afinal a mulher camponesa é também a companheiro de trabalho. A rigidez da massa aqui é impressionante, é lindo mesmo”. Essa informação, embora seja correta em seu conteúdo, tem um problema no julgamento. A percepção da mulher como companheira de trabalho não gera uma igualdade – e o capitão não diz isso – mas pode mesmo ser mais um aspecto da submissão feminina. Afinal, a participação da mulher nos trabalhos da roça não leva à participação do homem nos serviços domésticos – condição para uma igualdade plena. Se não houve uma igualdade de gênero entre os camponeses de Buriti, na qual provavelmente imperava uma divisão sexual do trabalho na roça, na casa de farinha de mandioca, na casa e na pecuária, isso não quer dizer que não havia um equilíbrio que de certa forma não desfavorecia enormemente as mulheres.

No dia 22 de julho, ele fala que no artigo que escreveu “para a massa, enfoquei que existem medrosos e etc”, mas observa uma peculiaridade da cultura camponesa de Buriti: “aqui o cabra pode está se borrando, mas não demonstra” e conclui “gosto desse povo”. Para Lamarca, “a macheza há que transformada em força para a Revolução”.

O movimento de Buriti não visava organização de um “foco de guerrilhas”, como muitos querem crer, mas de uma “Revolução Cultural” que fortalecesse as comunidades de forma coletiva e aumentasse seu nível cultural e sua capacidade de organização política. Para isso, organizaram o jornal, o teatro e a escola em que Santa Bárbara era o professor Roberto. Aí, mais do que ensinar a ler e escrever, organizava coletivamente e democraticamente festas como o dia das mães, a quadrilha do São João, tudo dentro dos limites da ditadura.

Os últimos 40 anos trouxeram modificações substanciais na região, no país e no mundo, mas a tarefa que Zequinha e seus irmãos e companheiros iniciou em 1969 – entendida aqui como elevação da capacidade de organização coletiva dos camponeses e potencialização de sua consciência política – ainda estão por fazer.

26 de out. de 2011

Estrada no Boqueirão da Canabrava





Impacto Ambiental ou “Desenvolvimento social” ? (A Indaga, nº 06)


As nascentes do riacho da Canabrava pedem socorro, pois as máquinas vêm para abrirem estrada será o “progresso”?

Sabemos que o trecho que liga a barragem ate a Grota do Mané José é onde ainda resistem vários minadouros, que não deixaram o nosso riacho secar por inteiro. Mas temos que redobrar o cuidado preservando e ampliando a fauna e flora, não destruindo. Podemos sentir na pele a destruição causada recentemente com a abertura da estrada para as roças da serra, na sede, no Brejinho e no Olho D’água. Começou com as máquinas e não pára.

Lá teve a conversa que foi feita para o escoamento dos produtos agrícolas, será isto mesmo? Ou será por causa dos donos das roças? Ou melhor, dos “ELEITORES”. As eleições estão próximas. Onde estão os projetos de assistência técnica para potencializar a produção os agricultores serranos preservando a serra e combatendo a erosão, que labutam em condições tão difíceis e produzem com dificuldade?

Ao contrário do que certas autoridades dizem por aí, o “desenvolvimento social” não é inimigo da preservação ambiental. Na verdade, o social depende do ambiental para existir e se os recursos naturais não forem preservados, toda a sociedade pagará um preço muito alto.

Qual será a Justificativa para abrirem estradas no leito do nosso querido riacho?

O projeto de reflorestamento Grota do Mané José que atua no boqueirão já se posicionou contra e diz que tal estrada não traria qualquer “benefício social”. “A revitalização da estrada, como reivindicam alguns donos de brejo, atrairia o indesejável cortejo de alguns endinheirados, desprovidos de qualquer compromisso com a preservação da natureza, para o fim exclusivo de praticar lazer predatório, deixando na área toda sorte de lixo, resíduos e dejetos humanos. A posição do Projeto visa fortalecer o poder público no sentido de resistir a eventuais pressões de proprietários de brejos. Em última instância, o Projeto Grota vai recorrer a Justiça para impedir qualquer intervenção na estrada” (Fonte: www.raizesdaserra.org.br. publicado em três de maio de 2011)

A Câmara Municipal aprovou o Código do Meio Ambiente em fevereiro de 2011. Essa lei determina que a realização do zoneamento ambiental para classificar as áreas do município que podem ser exploradas e as que serão protegidas. Somente depois da criação da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo e do Conselho de Meio Ambiente é que será possível realizar qualquer medida que tenha impactos ambientais. Uma ação como colocar máquinas na principal nascente de riacho deve possuir a licença ambiental e só o Conselho pode liberá-la. Se a prefeitura realizar essa obra estará passando com o trator por cima da própria lei. Quando será criada a Secretaria e ativado o Conselho?

Temos que evitar que as nascentes do Canabrava sejam destruídas. Principalmente com a crise da barragem de Mirorós e o racionamento que estamos passando. Durante décadas, foi aquele boqueirão que abasteceu Uibaí de água doce. É uma área de interesse público e qualquer intervenção ali deve ser discutida de forma democrática com toda a comunidade uibaiense!

21 de out. de 2011

Feira de Conhecimentos do CCMM 2011




Foi realizada no dia 15 a feira de conhecimentos do Colégio Cassimira com o tema artes. Particularmente, foram destaques as seções de artesanato, desenho e fotografia.

50 anos depois - de Uibaí a Pangeia


No último dia 15, foi lançado no Voz do Povo, 7º livro e 4º romance do escritor uibaiense Enoch Carneiro. Com a presença da população que lotou o salão do grêmio, o livro "50 anos depois" vem abrir uma temporada de revitalização cultural. Até o fim do ano, um novo livro de poemas de Pita Paiva sai do forno e o pesquisador Celito Regmendes prometeu para o ano que vem o primeiro trabalho dele.

14 de out. de 2011

Retirada de postes na Serra da Nova Olinda




O "progresso" é voraz e após destruir boa parte das caatingas na região dos baixios desde os anos 1960, avança impetuoso pelas serras. Onde há ladeiras e planícies, já temos tratores. Nos boqueirões e vales estreitos, lá estão eles: os turistas predatórios, o lixo, os tiradores de postes e os capitalistas do "eca"-turismo, donos de bares, butecos e balneários em beiras de riacho que deveriam ser preservados.
O mais comum seria perguntar: onde está o Estado? Recentemente, a Câmara Municipal aprovou o Código Municipal do Meio Ambiente, uma bela e bem intencionada lei, mas que, se a sociedade não se mobilizar, não passará de letra morta.
Historicamente, o Estado tem o papel de potencializar a destruição. Nos anos 60 e 70, os bancos financiavam a destruição da caatinga - e com isso, a matança de animais, a morte de lagoas, o comprometimento de lençois subterraneos e outros males - e agora, recentemente, oferece infraestrutura para continuar o desenvolvimento. Desenvolvimento de quê, cara pálida? Do capital. Favorecendo a todo custo o lucro privado, o papel do Estado é potencializar a destruição do meio ambiente e comprometer a vida das futuras gerações nessa região.
Somente a organização dos lutadores do povo pode fazer esse processo se reverter.