22 de set. de 2011

Seja bem-vida a primavera


"Primavera, verão, outono
Aqui não há esse quarteto
Às vezes um inverno verde
Às vezes um inferno seco"

Hoje começa a primavera. Não que aqui no nosso pé-de-serra hajam quatro estações do ano. As flores, o calor, a chuva, o frio, as frutas, a seca são tão misturadas e tão diversas nesse pedaço de chapadão misturado com serra, caatinga e cerrado. Dizem até que as cascáveis só trocam de pele duas vezes no ano (uma no verde e uma na seca) quando trocam quatro em países com quatro estações. Daí que a rosca da bicha indica não um ano, como é muito difundido, mas meio. Às vezes, depender da seca, quem sabe passa um ano inteiro, dezoito meses até. Mas nem há mais quase cascáveis e outras cobras. Os filhos de Eva cumprem bem a designação de Deus de que os herdeiros da mulher pisariam na cabeça dos herdeiros da serpente. Mas nem há quase pisões. Nos baixios, há anos o trator passou por cima da mata e matou cobra, preá, passarinho, veado, teiú, calango, onça... Nas serras, a bestialidade de nosso povo através de centenas de caçadores continua abatendo o que resta dos pobres animais. O fogo, as nascentes mortas, as estradas por onde chega o progresso termina de matar tudo, deixando só pó e areão.
Mas hoje começa a primavera. Daqui a algumas horas, o desfile de Uibaí vai começar e já tem criança na rua vestida a caráter. A cidade respira isso. Basta chegar e sentir: todo mundo esperando algo acontecer, para o bem e para o mal. Os apaixonados morrem de alegria e de desgosto pela festa. Afinal, depois de ser uma festa do povo da cidade, é uma festa do prefeito da cidade. E como todo ano, os oposicionistas de direita prometem que não vai ter nada no aniversário da cidade - e nada quer dizer que não terá aqueles ridículos trios com aquela música de baixíssima qualidade que, infelizmente, tem a cara da Salvador da indústria pop que vende a imagem misturada da disneylandia e da África brasileira, onde todo seu povo lindo é feliz, mas a maior parte de seu povo negro passa fome. Como esse ano teve direito a missa, show gospel, show de reggae e o famoso trio, os insatisfeitos vão se contentar em dizer que as bandas não prestam. Como se o município pobre, pobre de maré, maré de Uibaí pudesse trazer Chiclete com Banana (como se já tivessem trazido antes). Em compensação, os apaixonados do prefeito soltam fogos, enchem a cara, riem e estão estasiados de alegria. Não faz mal que a juventude tem como perspectiva a migração para estudar ou trabalhar em qualquer lugar por aí. Não faz mal que as demandas da educação levantadas há 3 anos na Campanha em Defesa da Educação Pública do MVIVE continuem as mesmas. Não faz mal. A primavera está chegando.
Os cajús estão florescendo, as mangas começam a produção, assim é a primavera no sertão. É tempo de recomeçar. Numa avaliação, estamos melhorando nosso consumo, mas destruindo nossa morada. Estamos melhorando nossa saúde, mas não o nosso espírito. Estamos pensando como nos mandam e não estamos criando. Estamos seguindo a maré, quando a verdade está no fundo do mar.
A primavera do povo ainda não começou. As flores desabrocham aqui e ali. Os atentos jardineiros, se não podem podá-las, desmoralizam os seus regadores. Mas não importa. A primavera há de chegar.

12 comentários:

  1. muito bom o texto...Más comentando sobre os festejos das 50 décadas de emancipação política, aparentemente esse ano está um pouco melhor, já com novos acontecimentos festivos,diferente das "micaretas" passadas, mas ainda deixando a desejar. tomo como exemplo a Semana de Arte ocorrida aí em Uibaí,(salvo engano acorrida em 2004)foi uma grande demonstração de organização cultural, juntamente seguida de boas atrações musicais.
    contudo, o que eu quero dizer é q talvez adotando o mesmo estilo DAQUELA festa(sem os "carros-sons" ambulantes). Ou melhor, fazer renascer uma nova Semana de Artes, bem estruturada em todos os sentidos, principalmente levando boas atrações, afinal todas as cidades vizinhas constituem os seus festejos com ao menos uma atração "de peso", por que a velha Canabrava não pode fazer o mesmo?

    obs:sei que ja teve outras SEAC, mas a citada acima é o meu ponto de referência, uma opinião particurlar minha.

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  2. "fazer renascer uma nova Semana de Artes, bem estruturada em todos os sentidos, principalmente levando boas atrações, afinal todas as cidades vizinhas constituem os seus festejos com ao menos uma atração "de peso", por que a velha Canabrava não pode fazer o mesmo?"

    CAIQ achei meio contraditorio tal colocação, pois não consigo associar BOAS ATRAÇÃOES com "ATRAÇÕES DE PESO", ha uma grande polemica em uibaí em relação a isso por sinal, fica parecendo q BOM é algo q faz SUCESSO, os mais saudosistas e anti-cultura de massa ou da mídia, torcem muito o nariz pois geralmente não gostam das coisas de PESO q os vizinhos trazem e q esses colocam como "coisa boa" geralmente desagrada a maioria do s jovens e o chamado senso comum...

    HA TEMPOS Q SE OBSERVA POR AQUI ESSE CHOQ, como equilibrar as coisas??? essa é a pergunta...

    UMA GRANDE FALHA NO GOVERNO ATUAL,inclusive uma falha imperdoável é a de não ABRIR UM CANNAL DE DIALOGO-DISCUSSÃO e prezar pelo caminho da negociação e busca do equilibrio q a cada é mais complexo, o q não dá é entrar ano e sai ano e a gente FICAR A MERCÊ DOS "HOME DO GUVERNO" ou melhor da prefeitura pra saber se vai xingar mais ou menos...

    UM GOVERNO Q NÃO PREZA PELA DIALOGO E PELA PARTICIPAÇÃO não cabe mais em uibaí, ta na cara, qero qdo a galera de pedro rocha vai se tocar em relação a isso...

    UM BOM EXEMPLO FOI DADO RECENTEMENTE,vária pessoas foram convidadas a opinar, as descisões principais foram acatadas pela sec. de educação, resultado: um desfile q apesar de varios problemas foi SUCESSO pois fez mesmo por merecer...

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  3. Celito.. o desfile tah sendo bem visto aki em SSA, pelo menos chegou aos meus ouvidos q foi um desfile muito grande e beim representado..
    mas falando das "atrações de peso" não precisa estar no auge da "fama" pra ser de peso, eu considero a maioria das bandas q tocam sempre na cantoria de São Gabriel como " atrações de peso" vai me dizer q vc não concorda?
    eu não quis deixar à parecer q o termo usado fosse para exemplificar bandas do tipo: pagode moderno q é mais comum, e as de sucesso repentino e nada duradouro, q sempre demonstram um auto nível de baixaria, porém ficam no fim da fila na escala de cultura..

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  4. acho um desperdício de dinheiro público trazer atrações de peso (leia-se milhares de reais de nosso bolso, afinal é dinheiro público) para fazer uma zuada, em geral, despolitizadora...
    também acho que nos últimos 7 anos, em uibaí, o dinheiro venceu a arte e hoje, temos a vantagem de termos muitos artistas profissionais vivendo de produção artística, ao invés de se explorado em algum tipo de trabalho "esterelizante", temos a desvantagem da arte ser despolitizada, sem engajamento, sem projeto de sociedade, enfim, um mais do mesmo, apenas mais elitizado, mais aburguesado, mais excludente...
    a data de morte do movimento político-cultural de uibaí foi uma reunião da SEAC de 2004 que decidiu que se a Petrobras não financiasse, não haveria movimento...
    recriar o movimento político-cultural de uibaí significa refrigerar a vida social da cidade com arte crítica e com mudança nos espíritos rebeldes que estão transferindo sua indignação para o mundo abstrato e estéril da "arte pela arte"

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  5. "acho um desperdício de dinheiro público trazer atrações de peso (leia-se milhares de reais de nosso bolso, afinal é dinheiro público) para fazer uma zuada, em geral, despolitizadora..."

    FLAVIO VEJO COMO CONTRADITÓRIA TAL COLOKAÇÃO, qdo vc diz "nosso bolso" e é contra a "atrações de peso" é complikado uma vez q a maioria e bota maioria nisso, deseja algo de maior "peso', por outro lado, eu tambme não gosto do q vejo a maioria querendo mas fico naquela, por q tenho q impor meus gostos?? portanto, discordo q a priori se deve só pensar em algo "politizador", penso q DIALOGAR E NEGOCIAR com as mais diversas correntes de pensamento e posicionamentos é mais interessante e importante q fazer o q as prefeituras sempre fizeram, ou seja, impor, ou então tal ideia de q O LAZER TEM q SER OBRIGATORIAMENTE "POLITIZADOR"...

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  6. isso me fez voltar aos anos mais DINaMICOS do ponto de agitação cultural-social e o eskanbau de UIBAÍ(anos 80 90) sobrEtudo nos badalados ANOS DAS SEACS e SAÕ JOÃO com embates prefeitura-estudantes...
    NO Q DIZ RESPEITO ÁS SEACS havia um quebra pau interno desgastante e inermInável, havia duas correntes de pensamentos no q diz respeito ao q sempre foi o NÓ GÓRDIO, o ponto cruciaL o pomo das discordias do evento; a música. Eu e mais uns cinco ativistas eramos mais ligados a REGGAE , POP ROCK E ROCK , a corrente majoritária era adepta pesadamente de CANTORIA E FORRò RAIZ, na minha corrente havia quem não gostava de cantoria como eu, mas, gostava de forró raiz, do outro lado tinha quem odiava rock, pop e até tolereva ou mesmo gostava de reggae...

    NOS DIGLaDIAVamOS POR HORAS , DIAS E MESES PRA SE CHEGAR A UM ACORDO, infelizmente não desarmavamos os espiritos e ficavamos naquela doq era POLITIZADOR OU MESMO do Q ERA A CARA DE UIBAÍ, aliás se sabia q a cara de uibaí smepre foi FORRÓ mas tambme brega classica, breganeja, sertaneja clasica e musicas da moda, mas não admitiamos q essas coisas fizessem parte da discussão, SEAC tinha q ser com CANTORIA , FORRÓ e olhe la um reguinho pra uns ou então tinha ser FORRÓ, REGGAE, ROCK e menos cantoria pra nosso grupo como se isso fosse a alvação da lavou ra pra nossa terra infestada das ervas daninhas da alienação...
    NA ULTIMAS SEACS( 2004 e 2009)não conseguimos AVANÇAR NA DISCUSSÃO, voltamos aos anos 80 e 90... hoje pra mim TÁ CLARO Q SE VAI FAZER ALGO PUBLICO HA DE SE TENTAR O MÁXIMO SE CELEBRAR A CULTURA POPULAR e promover ARTE DE TEZ e sentido CRÍTICO mas não empurarr isso a qualquer custo, democratizar as discussões, jogar limpo e e sem ressentementos é consição sine qua non para se construa algo mais coletivista e menos impositivo..

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  7. Para mim, essas atuais festas de aniversário da cidade tem dois grandes problemas: o primeiro é que estão disputando espaço com o são joão, fazendo com que esse fique cada vez mais sem espaço e investimentos do poder público e perca a referência enquanto a "festa de peso" da cidade para os jovens.
    Amo o são joão e fico triste em vê-lo cada vez mais abandonado e desimportante aos olhos dos jovens.
    O segundo grande problema é uibaí entrar na axétriozação do interior da Bahia. Estávamos tão bem sem esses trios que não trazem nada além da aculturação soteropolitana no que ela tem de pior e banalização de tudo.
    O que não falta é carnaval o ano inteiro pra quem quiser ir, inclusive em nossa região. Estava em Uibaí no fim de semana do aniversário mas não saí, pois esse tipo de festejo representa pra mim um enterro de coisas mais sertanejas e caatingueiras que costumávamos ter como referência de nossa cidade...
    Fico de luto diante do megalíder...

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  8. Bom, Celito, uma coisa é democracia, outra coisa é democratismo... Parcelas de "jovens" vivem reclamando pelas esquinas - já que não se organizam em coisa alguma - do forró "tradicional" em nome do forró de plástico do são joão e do trio megabosta no aniversário da cidade. Porém, como Marília disse em algum lugar, a festa não é só para os jovens e muito menos para a parcela de jovens que gosta desse lixo. Tem as crianças, tem os velhos, tem os adultos. Esses dois últimos grupos tem somente espaços privado, as famosas festas de Lula e Mara. Onde está este estilo nas festas públicas?
    E imagino que não há democracia alguma em torrar dinheiro público para crianças e jovens escutarem "rala a chana no asfalto", "bota o cú para riba", etc.
    Acredito que a medida tem que ser a de Chico César: não gastou um centavo no são joão da paraíba com coisas do estilo aviões do forró. Sem coragem, não se muda as coisas.

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  9. calma flavão, fiq mais atento as coisas cumpadi, não é apenas dos JOVES q ha reclamações acerca de são joão, festa da cidade( q alguns jovens batizaram de uibaí fest( olha o anglicanismo) ou mica uibaí), santana, sta rita, n.sra aparecida da quixab., são pedro do poço etc etc. A RECLAMAÇÃO é generalizada e não é de agora ja vem desde meados dos anos 90 QDO IRECÊ passou investir em sãojoazão e as cidades vizinhs em "festas da cidade"( aniversario) com TRIOZÕES e bandonas e/ou cantorzões e isso só vem crescendo por uma série de fatores, por exemplo o setores ligados a comercio e serviços desejam algo mais denso pois vão ganhar mais( tradicionalmente ajudam pouco e exploram muito sobretudo os maiores comerciantes), pelo fato de lugares do porte de uibaí trazerem gente famosa ha um forte desejo generalizado de v algo aqui tambem, faça uma pesquisa simples e verá não apenas os jovens mas quase todos os setroes da sociedade desejam algo mais denso... QTO A FRASE DAS MUSICAS Q VC CITOU sinceramente não tenho um opinião formada pois pra mim letra pobre é letra pobre sendo ligada a sexo ou não, ha muito moralismo nas criticas a tais musicas mas ha de lembrar q historicamente a musica dos "pobres" ou o q quer q seja sempre foi muito ligada a o se chama de "esculhambação" desde os tempos do brasil colonia, desde aqele tempo q se pede( a classe media e alta branca mestiça ou negra mais instruída nos padrões ocidentais), se dejesa, se implora e até se proíbe negros, afro indigenas , caboclos e cia pra pararem de falar tanta "putaria", mas é perdido até hoje é assim,p osso até naõ gostar do estilo musical mas longe de mim de querer enquadrar ninguem , liberdade de expressão sempre...

    POIS BEM , continuo batendo na tecla, sou do time q gost,a quer e faz tudo para q a CELEBRAÇÃO DA CULTURA POPULAR e a ARTE CRITICA esteja na ordem do dia, mas vejo boa doseo de moralismo e até certo autoritarismo a forma tratar o gosto de muitos como LIXO ABOMINÁVEL, pra mim tem q se DIALOGAR, NEGOCIAR, ceder aqui , pressionarali e não abrir acolá ,mas ha de se DEMOCRATIZAR A DISCUSSÃO PRA SE CHEGAR AS AÇOES SEMPRE, dizer a priori o q é certo ou é errado, sinceramente acho mais perigoso do q "botá o cu pra riba"...

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  10. Estava em Uibaí no fim de semana do aniversário mas não saí, pois esse tipo de festejo representa pra mim um enterro de coisas mais sertanejas e caatingueiras que costumávamos ter como referência de nossa cidade..."

    TAMBME NÃO saí E COMO VC FICO ATERRORIZADO COM TAL SITUAÇÃO , mas aí e´q tem fazer valer nossa capacidade de encarar o "mundo real", penso q só da pra encarar na base do DIALOGO, da NEGOCIAÇÃO, no debate exaustivo, ou então jeito é correr, se esconder e sofrer no calado, ou, caso se esteja no poder, IMPOR mas aí a coisa tambem não é facil, nem correto... o momento é complexo demais, exige da gente mais q desejo , exige da gente uma série de coisas para q não nos sintamos como derrotados pelo esquemão nem querendo q nosso jeito de v mundo seja imediatamente ou não aceito por melhores q seja nossas

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