Surgiu um novo "outro lado". Quem divide não é mais o riacho. Se tivesse vivo, o Riachinho, faria o papel da Avenida Presidente Dutra, o asfalto, que parte a cidade em duas. Uma parte, que se identifica como Rocha Machado, uibaiense autêntica, branca, católica-espírita, elitizada, universitária, cultural. Uma outra parte, o "outro lado", os "lá de baixo", são Machado pobres, Silvas, Carvalhos, Santos, de Jesus, Mateiros, Serranos, Nortistas, pretos, pobres, analfabetos, "de fora".
Todavia, não é abolindo a rua que separa que se resolve o problema. A divisão, embora se explicite geograficamente, é sócio-histórica. Há aqueles que tem grana, acesso à educação particular, saúde privada, carros, recursos. Há os que estão fora. Há aqueles que repartem o generoso leite da vaca azul em qualquer ocasião, em qualquer governo, que fazem especulação imobiliária, que pagam 70 reais para uma empregada doméstica fazer trabalho escravo. Há os que votam e, no resto do período, ficam esquecidos de saúde, da educação, do lazer, do saneamento. Há os que vivem de lucrar e os que lutam para sobreviver.
A divisão de Uibaí não é entre direita e esquerda, entre patos e ratos, entre amigos e inimigos do prefeito, entre quem mama e quem não mama na vaca azul. A diferença é entre ricos e pobres, entre trabalhadores e patrões, entre quem trabalha para sobreviver e quem vive para dar trabalho aos outros.
A “favela”, “lá em baixo” é um lugar geográfico, mas a classe trabalhadora é o novo outro lado de Uibaí!
A divisão também não simplesmente racial. Embora aqueles que são socialmente brancos por seguirem os valores e padrões étnicos brancos utilizarem do racismo como forma de dominação, dizer que a oposição é entre brancos e negros é um erro. De fato, não podemos desprezar que o "novo outro lado" cumpre um papel de resistência e reafirmação dos valores negros e tendam a assumir uma postura de autoafirmação. Mas dos dois lados é possível perceber origens complexas. Venceslau era mulato, filho de um português com uma africana. Casou-se com uma descendente de portugueses e índias. Seus descendentes misturaram-se com a família Pires Maciel ou Pires de Carvalho de português e índia, com os Ferreira dos Santos, mulatos, e com outras famílias. A ascendência portuguesa é marcada por judeus, marroquinos e árabes. Com a migração chegaram descendentes de negros, índios, portugueses, marroquinos, judeus, ciganos, etc. Como, então, dizer que existe uma divisão racial? Porém, culturalmente, há uma separação: entre os que são favorecidos pelo racismo e aqueles, do novo outro lado, que sofrem com agressões racistas. Agressões verbais e físicas na rua, na escola, no trabalho, no comércio, na política, no bar, na polícia.
O novo outro lado está quieto. Mas é só aparente. Quando se mover, será capaz de sacudir o "lado" do poder, do racismo, do capital, da opressão, da violência policial, da intolerância e da corrupção.
O novo outro lado está quieto. Mas é só aparente. Quando se mover, será capaz de sacudir o "lado" do poder, do racismo, do capital, da opressão, da violência policial, da intolerância e da corrupção... po tu tão otimista assim flavão???? q bacana cara, q teu vaticinio se torne realidade irmão, mesmo q a gente nãe esteja mais aqui pra ver, nem deixemos descedentes, mesmo q deixemos apenas nossas impressões gravadas nesse frio(ou quente?) disco rígido... toka pra frente disco!!!
ResponderExcluirQuem sabe, Celito. Os oprimidos estão quietos. Mas diz a sabedoria popular que "boi manso é que derruba cerca". Quem sabe não temos uma agradável surpresa nessa década nova? Depois da Copa e da Olimpiada, é claro. Afinal, só quando o sangue esfria é que a ferida dói...
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