19 de mar. de 2011

"O império americano precisava desesperadamente de Barack Obama"

Entrevista Tariq Ali (FRAGMENTO tirado do site da revista "caros amigos "por celito regmendes):

"O império americano precisava desesperadamente de Barack Obama"

Por Tatiana Merlino PARA SITE DA CAROS AMIGOS

Enganaram-se aqueles que acreditaram que Obama representaria uma mudança na política interna e externa da principal economia do mundo. “Muitas pessoas acreditaram em Obama e se esqueceram que ele levantou mais dinheiro de Wall Street do que Hillary Clinton e John McCain juntos. O banco Goldman Sachs e muitos outros deram-lhe milhões”, afirma Tariq Ali, escritor e historiador de origem paquistanesa e radicado na Inglaterra. Ali, que está entre um dos mais respeitados intelectuais de esquerda, lançou, recentemente, o livro The Obama Syndrome: Surrender at Home, War Abroad (A síndrome de Obama: capitulação em casa, guerra fora), ainda sem previsão para publicação em português. Na obra, Tariq Ali analisa os primeiros 18 meses do presidente, que define como um “político-máquina do Partido Democrata em Chicago”.

Nesta entrevista, o historiador também discute a relação dos Estados Unidos com o Paquistão, país que, segundo ele, está sendo usado pelos interesses estadunidenses na guerra do Afeganistão( OBS: NÃO COLOQUEI ESSA PARTE DA ENTREVISTA, CASO QUEIRAM, COLOCO-celito regmendes). “Muitos dos terroristas de hoje foram treinados nos Estados Unidos, onde aprenderam como atirar em helicópteros. Hoje é altamente irônico que eles estejam fazendo isso contra os Estados Unidos”.

Tariq Ali ainda analisa a crise financeira mundial de 2008, que, define como a mais séria crise do capitalismo desde 1929. Sobre o processo eleitoral brasileiro, Tariq Ali, bastante crítico ao governo Lula, disse que ficou feliz por José Serra ter sido derrotado nas urnas, mas quando viu a presidente eleita numa foto com Antonio Palocci (que será o ministro da Casa Civil de Dilma) pensou “ai, meu deus... Esse cara é o mais articulado defensor de políticas econômicas neoliberais e o país não precisa de pessoas como ele, mas sim de pessoas que pensem diferente”.

Caros Amigos - Queria começar por seu último livro: “A Síndrome de Obama: Capitulação em casa, Guerra fora”. O que aconteceu, por que Obama está rendido em casa, foi uma cilada?

Tariq Ali - Não, não é uma cilada. Basicamente é importante entender que Obama é, essencialmente, um político-máquina, da máquina do Partido Democrata em Chicago. Um dos piores do país. No meu livro sobre Obama eu o descrevo como a aparição mais inventiva que o império criou de si mesmo. O império americano precisava de Obama, desesperadamente. Muitas pessoas assumiram, automaticamente, que Obama seria melhor do que Bush. Não apenas nos Estados Unidos. No mundo inteiro. Eles tinham ilusões reais. Até pessoas de esquerda, até o lideres bolivarianos, como Hugo Chávez. Eles tinham verdadeira esperança, não ilusões. Lula realmente acreditou quando Obama disse “sim, intervenha em nosso nome com o Irã”. Não é que Lula foi como a imprensa disse: “ele foi ingênuo”. Não é uma questão de ingenuidade. Obama disse ao Lula e para o líder turco, “por favor, nos ajude com o Irã”, e eles o fizeram. Eles conseguiram que os iranianos concordassem com o plano, e então os americanos recuaram.

Muitas pessoas acreditaram em Obama e se esqueceram que ele levantou mais dinheiro de Wall Street do que Hillary Clinton e John McCain juntos. O Goldman Sachs e muitos outros deram-lhe milhões. Eles não iam tocar um música que Wall Street não gostasse. Isso era óbvio. As pessoas achavam que as reformas da saúde seriam reformas de verdade, que haveria serviço de saúde de verdade, como há na Europa. Eles subestimaram o lobby da indústria farmacêutica e das empresas de plano de saúde e asseguraram que as reformas estavam sob seu controle. Então, quando houve as pressões das corporações nos Estados Unidos, Obama capitulou. Fora do país, houve guerra, como usualmente. Mas, internamente, mesmo com promessas que não tem nada a ver com as corporações, como “iremos fechar Guantánamo”, não se fez nada.

Com o que se prometeu de “iremos acabar com tortura, rendições”, também nada. O chefe da CIA, Leon Panetta, foi questionado sobre as torturas, e nada ocorreu. Então, o desapontamento entre seus próprios apoiadores nos EUA é muito alto. Eu estava nos Estados Unidos durante a campanha de Obama, e não há dúvida que entre as idades de 18 e 26, uma quantidade enorme de jovens se mobilizaram por ele. Então, essas são as pessoas mais desapontadas com Obama nos EUA.

Caros Amigos - Quais são as consequências desse desapontamento?

Nas eleições de meio mandato, muitos dos apoiadores de Obama não votaram, eles ficaram em casa. Então, os republicamos ganharam a Câmara dos Representantes, com uma maioria enorme, e no Senado, teve uma pequena maioria para o Obama, mas eles perderam. E se continuar assim, é uma pergunta em aberto o que irá acontecer em 2012. Não que isso importe, pois o sistema é tão forte agora, que é necessário ser um presidente muito corajoso e confiante para mudar isso, mesmo que pouco.

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