31 de mar. de 2011

ASPECTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS DO PROCESSO DE ASSOREAMENTO DO RIACHO CANABRAVA


O texto abaixo foi publicado no caderno Crítica da caatinga de maio de 2008 e o interesse sobre ele permanece atual. Suprimimos uma parte do texto intitulada "Caracterização de Uibaí" por entender que a mesma é desnecessária para boa parte dos leitores que visitam com alguma frequência esse blog.


ASPECTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS DO PROCESSO DE ASSOREAMENTO DO RIACHO CANABRAVA*

Daiane Dantas Martins**

Geandro Machado Alecrim***

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo estudar as ações antrópicas responsáveis por acelerar o andamento natural do processo de assoreamento do Riacho Canabrava, sobretudo aquelas ocorridas a partir da segunda metade do século XX.

Este recorte temporal foi escolhido por percebermos através de pesquisas, que foi na década de 1950 que se iniciou o processo depredatório das encostas e dos topos da Serra Azul ou das Laranjeiras onde este riacho tem as suas nascentes, bem como do seu leito, sendo esse o período quando se verifica um aumento no fluxo de pessoas na serra.

Nós, enquanto naturais do município na qual está localizado o riacho em questão, percebemos que ao longo do tempo o Riacho Canabrava tem perdido o seu rigor em conseqüência da gravidade do assoreamento ao qual este tem passado. Diante disso, buscamos investigar quais os principais elementos que contribuíram para que se chegasse a tal situação.

Sendo assim, faz-se necessário entender de que forma se deu o processo de agravamento do assoreamento em conseqüência desses fatores, pois é a partir deste entendimento que buscaremos sugerir atividades que minimizem a atuação dos agentes envolvidos diretamente nesse processo.

A metodologia utilizada será a pesquisa bibliográfica, consulta a fontes escritas, entrevistas, entre outros. Após a análise das fontes selecionadas, confrontamos as mesmas, e a partir daí, passamos à fase de redação.

Para dar suporte, utilizaremos a fim de complementar a pesquisa no que se refere às fontes, entrevistas feitas com o Sr. Valmir Roza - que foi escolhido por ser ex-secretário da Prefeitura municipal na década de 70 e memorialista sobre a história de Uibaí - e Zé Pinheiro - ex-agricultor da serra Azul. Além disso, serão utilizadas fotografias para observação da área estudada; o Projeto de Revitalização do Boqueirão do Canabrava; o trabalho monográfico intitulado: O uso dos solos e suas conseqüências sócio-ambientais no município de Uibaí-Ba e bibliografias que nos darão o embasamento teórico para analisar e compreender o processo de assoreamento do Riacho Canabrava identificando os fatores que proporcionam o mesmo.

A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DO RIACHO CANABRAVA E OS FATORES RESPONSÁVEIS PELO SEU ASSOREAMENTO

Uma abordagem a respeito do processo de povoamento da área em que se localiza o objeto de estudo faz-se necessário devido ao fato deste estar diretamente relacionado com o assunto que nos propomos a discutir, ou seja, foi ao longo do Riacho Canabrava que nasceu o povoado Canabrava do Gonçalo que posteriormente originaria o município de Uibaí. A história do município reporta-se a meados do século XIX quando,

Por volta de 1848, um pequeno agricultor e pastor de nome Venceslau Pereira Machado, deixa o povoado de S. José do Torneado situado na Serra do Assuruá próximo a atual cidade de Gentio do Ouro, influenciado pelas notícias dadas por um escravo fugido chamado Vicente Veloso que na sua fuga de Morro do Chapéu, passara por um vale situado numa serra que de longe toma um aspecto azulado e que nas margens do vale predominava uma planta de nome ‘Canabraba’ ou Canabrava e que por ali não havia vestígios de ocupação humana num raio de 30 Km.(SILVA, 1995, p. 14)

Após descobrir que as terras pertenciam aos herdeiros do conhecido Conde da Casa da Ponte - Antonio Guedes de Brito -, Venceslau compra as referidas terras passa a ocupá-las com sua família, povoando as margens do que viria a ficar conhecido como Riacho Canabrava. Tal era a importância desse riacho para essa população que o lugar passou a chamar-se Canabrava do Gonçalo devido à abundância dessa vegetação em todo o leito do riacho – ‘canabraba’ ou canabrava[1] – juntamente com o nome do cunhado de Venceslau – Gonçalo José dos Santos – que veio a ser o primeiro morador ocupando a borda direita da Serra Azul, lugar este que foi denominado Olho D’Água do Gonçalo, em 1845 aproximadamente. Em vista disso o primeiro nome que Uibaí recebeu foi Canabrava do Gonçalo, denominação que perdurou até 1938 quando Uibaí torna-se Distrito de Xique-xique, alcançando a categoria de cidade em 1961 quando se emancipa.(SILVA, 1995, p. 14)

É indiscutível o valor que o Riacho Canabrava teve para que se iniciasse o povoamento do lugar, bem como a riqueza que proporcionou, pois “ (...) além de caça com fartura, o negro Vicente encontrou, na escarpa da serra, os frutos do jatobá, que lhe serviram de farinha, e excelente fonte de água corrente.” (ROCHA, 1988, p. 50) Segundo consta em informações essas terras ao serem encontradas eram “Grandes áreas de terra totalmente desabitadas, bastante água e excelente qualidade do solo.” (ROCHA, 1988, p. 50)

Dessa forma,

Os fatores naturais, em particular a existência de água corrente, tão preciosa nos terrenos de cultura ou em qualquer parte da região semi-árida da Bahia, tem um valor incalculável para quem procura abrir novas fronteiras. Quando se trata de ‘olhos d’água’, designação que aparece freqüentemente na toponímia do interior nordestino, a atração do líquido é evidente, com sedutor efeito, seja para o simples viajante ou para quem procura pouso mais demorado”. (ROCHA, 1988, p. 51)

Assim, nota-se que os primeiros povoados a surgir às margens do riacho período em que “(...) os verdejantes brejos de bananeiras e cocáis foram sendo formados como o cartão de visita de uma terra de abundância.”(ROCHA, 1988, p. 51) Sendo assim, tem-se por volta de 1850 o início da modificação ambiental pelo homem no espaço o qual estamos abordando, onde Venceslau “(...) À beira do riacho plantou sua residência e construiu uma ‘casa-de-farinha’ (a primeira existente na vila) e cultivou grande extensão do brejo onde diversificou a plantação de cereais.” (ROCHA, 1988, p. 56)

Como podemos perceber no breve resgate histórico acima, poderíamos iniciar os nossos estudos acerca do assoreamento no Riacho Canabrava a partir de meados do século XIX, todavia escolhemos como delimitação temporal a década de 1950 até os nossos dias, por termos constatado ao longo da pesquisa que foi após este período que iniciou a intensificação do assoreamento do riacho devido às ações antrópicas decorridas de dois momentos marcantes. O primeiro trata-se da construção de uma casa na localidade denominada como Capanga próximo a uma das nascentes do riacho. A construção desta casa pode ser entendida como o marco para o aumento do fluxo de pessoas na serra Azul, provavelmente, de caçadores que a utilizavam para pernoitarem.

Quanto ao segundo fator, refere-se a construção da primeira barragem em 1950 sobre o Riacho das Canabravas, com o objetivo de abastecer a cidade de Uibaí[2]. Vale ressaltar que em 1956, segundo Valmyr Roza, a água do município passou a receber o devido tratamento para o consumo que já vinha acontecendo há seis anos. Em 1963-1967, quando Uibaí já havia se emancipado, o sistema de abastecimento d’água foi ampliado, e além de servir ao Município essa água servia também, através de carros pipa, aos Municípios visinhos que dispunham desse bem em uma quantidade insuficiente.

Já nos anos 80, a cidade de Uibaí passou por uma forte estiagem, levando o então prefeito municipal a angariar fundos junto ao DER-BA. Essa verba emergencial deveria ser destinada à construção de estradas e barragens, optou-se por construir a segunda barragem, um pouco abaixo da primeira, ficando a que se situava mais acima para o abastecimento da cidade e a segunda destinada ao laser não só da população local, mas de vários municípios vizinhos, influenciando assim, para uma grande aglomeração de pessoas neste local da serra.

Ainda na década de 1980, ocorreu a ocupação desenfreada das encostas e dos planos de topos de morros por “posseiros”, mesmo estes tendo de vencer distâncias, falta de infraestrutura e adversidades de toda origem em decorrência da grande pressão fundiária que foi gerada pela escassez do acesso a novas terras agricultáveis devido a questões financeiras, pois “as terras de espólios tornaram-se cada vez menores e inviáveis, diante do modelo agrário/agrícola assumido pelo Brasil nas últimas décadas.”[3]

Por fim, nos atentamos a total descaracterização da vegetação ciliar do riacho da Canabrava referente ao trecho que passa por dentro do território da cidade de Uibaí, pois o solo destas margens tem sido utilizado para fruticultura (manga, coco, caju, outros) e pastagens tem desencadeado uma aceleração do assoreamento neste riacho.

Exposto os fatores acima, detectados como responsáveis por agravar o assoreamento natural que vem ocorrendo na bacia do riacho Canabrava, passaremos a analisar as suas influencias de forma mais aprofundada a seguir.

DISCUSSÃO DOS FATORES RESPONSÁVEIS PELO ASSOREAMENTO DO RIACHO DA CANABRAVA

O Riacho Canabrava é a principal bacia hidrográfica existente na Serra Azul, no trecho localizado no Município de Uibaí e tem sua nascente

(...) na Serra dos Capangas e corta a Serra Azul ou Serra das Laranjeiras e ao percorrer uns 18 quilômetros, desemboca na vereda da Boca D’Água próximo ao povoado Veredinha, na propriedade agropastoril do senhor Domingos Leandro Machado, isto no período chuvoso, na época da seca ele percorre apenas, uma extensão perimétrica de uns 10 mil metros.”[4]

Os processos responsáveis pela ação erosiva nas margens do riacho da Canabrava e principalmente nas encostas da serra Azul que resultam no assoreamento do mesmo, estão relacionados aos quatro fatores controladores expostos por Guerra e Cunha (2001): A erosividade da chuva, erodibilidade do solo, cobertura vegetal e características das encostas, associadas à atuação antrópica, acarretando assim, no agravamento do decorrer natural do assoreamento.

Dessa forma, para melhor descrição e compreensão deste processo, faz-se necessário caracterizar o tipo de solo, vegetação, encostas e chuvas predominantes na área de estudo, ou seja, na bacia do Riacho Canabrava, juntamente com atividades antrópicas ai existentes.

Nesta área encontramos, sobretudo, um agrupamento de solos pouco evoluídos e sem horizonte B diagnosticado, ou melhor, os neossolos, que por sua vez estão subdivididos em quatro categorias: neossolos litólicos (solos litólicos), os neossolos flúvicos (solos aluviais), os neossolos quartzarênicos (areias quartzosas).

Os neossolos litólicos (solos litólicos), solos com horizonte A ou O hístico com menos de 40 cm de espessura, assente diretamente sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou Cr com grande parte da sua massa constituída por fragmentos de rocha (cascalhos, calhaus e matacões), admitindo um horizonte B, em início de formação, cuja espessura não satisfaz a qualquer tipo de horizonte B diagnosticado. Estes solos são encontrados nas encostas que ficam adjacentes ao leito do Riacho Canabrava no trecho serrano que apresenta forte ondulamento resultante da formação de outeiros e morros com elevação de 50 a 200m. Este trecho apresenta-se como o principal responsável pelo assoreamento do Riacho Canabrava, por estar mais susceptível a erosão laminar, devido à declividade acentuada da encosta somada ao solo arenoso com fragmentos de rochas que se encharca subsuperficialmente fácil, propiciando o fluxo de água na superfície.

Outro fator que podemos associar a tal processo erosivo, é o pequeno teor de agentes agregadores contido no solo em decorrência da pouca matéria orgânica originada da vegetação de caatinga que predomina nesta área, bem como pelo seu desmatamento em conseqüência da agricultura de subsistência existentes nas encostas e topos que tem apresentado um

(...) número que se aproxima de 300 famílias que vivem da exploração itinerante de roças abertas e utilizadas até esgotamento total do solo. As técnicas rudimentares resultam no conjunto fogo, erosão e produção agrícola arcaica, processo produtivo que dura no máximo 04 anos, obrigando cada grupo familiar a abrir outra clareira nas serras, para o mesmo fim.[5]

Dessa maneira, o processo de erosão laminar é potencializado, pois o baixo teor de agentes agregadores adicionado à quebra destes, aumentam a erodibilidade do solo, por facilitar a formação de crostas que o impermeabiliza, aumentando assim, o escoamento superficial.

Esta vegetação a qual nos referimos acima, é composta por uma flora de caatinga semicaducifólia com presença de itapicurús, jatobás, paud’arcos, aroeiras, baraúnas, angicos, tamburis, gameleiras, ingazeiros, cedros, quixabeiras, juazeiros etc. além de arbustos como jurema, unha-de-gato, cansanção, facheiro entre outros que impossibilitam o contato direto das gotas de chuvas com o solo reduzindo a erosão por splash, reduzindo também, a velocidade das enxurradas, minimizando a erosão superficial.

Por sua vez, os neossolos flúvicos (solos aluviais), solos derivados de sedimentos aluviais com horizonte A posto sobre C constituído de camadas estratificadas, sem relação pedogenética entre si juntamente com os neossolos quartzarênicos (areias quartzosas), solos com seqüência de horizontes A-C, apresentando textura areia ou areia franca nos horizontes; essencialmente quartzosos, tendo nas feições areia grossa e areia fina e ausência de minerais primários alteráveis (menos resistentes ao intemperismo) são proeminentes das áreas topograficamente planas, com a superfície esbatida ou horizontal, onde os desnivelamentos são muito pequenos, por isso, áreas em constante acumulação de materiais sedimentares. Estes solos são encontrados, predominantemente, no decorrer das margens do Riacho Canabrava, onde o seu

(...) processo de ocupação e exploração foi iniciado em meados do século XIX (1850), quando o povo da antiga Vila percebeu que as terras do Boqueirão formavam uma das raras porções do território que oferecia condições de umidade durante o ano inteiro. Assim, substituíram paulatinamente a vegetação ciliar por frutíferas (mangueiras, cajueiros, coqueiros, e outros) e capins, gerando produção econômica e problema ambiental crescentes, sendo o primeiro mais observado que o segundo, mesmo este se tornando cada vez mais evidente, à medida que a população foi aumentando. Chegamos aos dias atuais, que apresentam intensa descaracterização das margens do riacho.[6]

Neste processo de retirada da vegetação natural ciliar para introdução de frutíferas e gramíneas (para a atividade pastoril) ocorrem atividades propícias para o aumento do assoreamento do riacho, especialmente, pela erosão laminar. Este processo decorre da redução do conteúdo de matéria orgânica no solo ocasionando a redução de agentes agregadores, por deixar o solo mais exposto diretamente as gotas de chuva e por compactar gradualmente o solo por pisoteio do gado dificultando a infiltração da água, entre outros fatores.

Relacionado a construção das duas barragens que tratamos no tópico anterior, podemos observar a interferência do equilíbrio natural do Riacho Canabrava em duas áreas, ou seja, a montante da barragem e a jusante da barragem. Estas modificações são visíveis, principalmente, após a construção da segunda barragem na década de 80. Primeiramente, por ter suas paredes mais altas aumentou a altura da queda d’água, potencializando assim, o solapando do solo abaixo (sobretudo nos períodos chuvosos) influenciando para um grande acréscimo de sedimentos transportados que serão depositados em pontos anteriores a desembocadura do riacho, pois a energia do fluxo do riacho tem sido reduzida em conseqüência da “morte” de algumas nascentes, somada ao seu assoreamento.

O outro fator está relacionado ao aumento do nível d’água no reservatório, levantando o nível de base local, alterando a forma do canal, bem como a capacidade de transporte de sedimentos assoreados a montante da mesma. Devemos salientar, que este reservatório que tanto nos serviu, foi completamente abandonado por volta do ano 2003 após introdução da distribuição de água pela EMBASA, encontrando-se atualmente completamente assoreado.

Diante do que foi exposto, percebe-se que ações antrópicas predatórias (desmatamento das encostas, topos planos e margens, além da construção de barragens) impostas ao Riacho Canabrava tem impulsionado o aceleramento dos processos erosivos acarretando o agravamento do processo natural do assoreamento no mesmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o exposto anteriormente percebe-se que a devastação ambiental vem ocorrendo desde o momento em que os primeiros habitantes chegaram em seu solo modificando o meio ambiente com o fim de adequá-lo às suas necessidades básicas. Todavia, com o passar dos anos e das gerações essa devastação atingiu sérias proporções devido à má utilização desses recursos que não são suficientes para garantir a dignidade das famílias envolvidas (300 famílias) e contrariamente, traz um custo ambiental incalculável que não se restringe a apenas o município de Uibaí – afetado diretamente – mas também, refletindo em toda a região que de alguma forma já foi dependente dos recursos hídricos de Uibaí. Em vista disso, consideramos que se “(...) Até a década de 1970, o Boqueirão de Uibaí era a única fonte de água potável a servir milhares de pessoas.”[7] Faz-se necessário urgentemente a recuperação não só do Boqueirão no qual se encontra o Riacho Canabrava, como também dos riachos que se encontram ao longo de toda Serra Azul, que propiciariam a Uibaí a recuperação de sua autonomia no que diz respeito à disponibilidade de água potável em quantidade suficiente para o abastecimento de toda a população, tendo em vista também a “(...) previsão da CODEVASF de estrangulamento do Sistema Mirorós [que abastece atualmente além da sede do município alguns distritos], para consumo humano, a partir de 2012.”[8]

Sendo assim, faz-se necessário a recomposição da cobertura vegetal nas encostas e a correção do processo erosivo possibilitando a garantia da revitalização dos cursos d’água, bem como observa-se a urgência de uma revisão nas atitudes tomadas pelo município no tocante à “política ambiental” pois, ao que foi possível inferir diante das poucas informações obtidas, uma vez que proíbe queimadas, derrubada de árvores, caça, etc, todavia não apresenta uma alternativa para que essas pessoas que dependem economicamente dessas atividades haja vista o alto desemprego no município, ficando assim, um grande contingente de pessoas impossibilitadas de desenvolver as atividades das quais depende o seu sustento.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Sandra Basptista da e GUERRA, Antonio José Teixeira (Orgs.). Geomorfologia do Brasil. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

CUNHA, Sandra Basptista da e GUERRA, Antonio José Teixeira (Orgs.). Geomorfologia – Uma Atualização de Bases e Conceitos. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

Diagnóstico de Uibaí. UFBA/UMBU. 1997.

Projeto para Revitalização do Boqueirão da Canabrava. UMBU – União Municipal em Benefício de Uibaí. Fevereiro de 2003. Uibaí – Bahia.

ROCHA, Osvaldo de Alencar e MACHADO, Edimario Oliveira Machado. Canabrava do Gonçalo: Uma Vila do Baixo Médio São Francisco. Salvador: Brasília: Ed. do Autor, 1988.

SILVA, Jusselito Mendes da. O uso dos solos e suas conseqüências sócio-ambientais no município de Uibaí-Ba. Monografia. Salvador, UFBA, 1995.

Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Embrapa. Serviço de Produção de Informação. Brasília, DF, 1999.



* Artigo científico produzido na Disciplina História Ambiental, orientado pela professora Marjorie Cseko Nolasco.

** Historiadora graduada pela Universidade Estadual de Feira de Santana e mestre pela Universidade do Estado da Bahia. daiuibai@yahoo.com.br.

*** Geógrafo pela Universidade Estadual de Feira de Santana geandromachado@yahoo.com.br.

[1] Atualmente esta vegetação já foi praticamente toda devastada, podemos encontrar ainda algumas amostras próximo o um poço de nome Bucetinha, localizada no brejo particular de seu Sergipano.

[2] Anotações cedidas por Valmyr Roza de Miranda.

[3] Projeto para Revitalização do Boqueirão da Canabrava. UMBU – União Municipal em Benefício de Uibaí. Fevereiro de 2003. Uibaí – Bahia. p. 6

[4] Anotações cedidas por Valmyr Roza de Miranda.

[5] Projeto para Revitalização do Boqueirão da Canabrava. UMBU – União Municipal em Benefício de Uibaí. Fevereiro de 2003. Uibaí – Bahia. p. 6

[6] Projeto para Revitalização do Boqueirão da Canabrava. UMBU – União Municipal em Benefício de Uibaí. Fevereiro de 2003. Uibaí – Bahia. p. 6

[7]Projeto para Revitalização do Boqueirão da Canabrava. UMBU – União Municipal em Benefício de Uibaí. Fevereiro de 2003. Uibaí – Bahia. p. 7

[8] Projeto para Revitalização do Boqueirão da Canabrava. UMBU – União Municipal em Benefício de Uibaí. Fevereiro de 2003. Uibaí – Bahia. p. 8

30 de mar. de 2011

Povo é inseto?


Povo parece inseto. Povo, aqui, significa gente trabalhadora, sofredora, sem grandes atributos de status, sem nomes nobres, enfim, povo pobre.
Inseto? Não se ofendam, calma. Tudo tem seus dois lados.
Povo parece inseto porque, isolado, gosta de se esconder, de fugir, de não enfrentar. Os motivos são vários: medo de ser esmagado, covardia, falta de dignidade ou mesmo vontade de ser aquele que está lá em cima, esmagando, humilhando, botando pra fuder. Tem gente que acha isso lindo. Até mesmo, há quem faça isso por uma certa "esperteza": ora, vou enfrentar quem é mais forte do que eu pra ser esmagado? Que nada! Vou ficar aqui na minha. Mas isso é uma esperteza que só vale no curto prazo. Fugir pra salvar a vida. O matemático da novela "Com meus olhos de cão" de Hilda Hilst diz de forma bem resumida a frase que fundamenta essa forma de ser povo-inseto-isolado: "Por calar é que tenho meu pão e minha vida".
No médio e no longo prazo, porém, a esperteza vira idiotice. Para quem acredita que é preciso lutar para as coisas melhorarem, é claro. Aí é preciso lembrar do filme Besouro de João Daniel Tikhomiroff, em que o capoeirista jovem pergunta ao mestre: "Meu pai, eu morri?". O preto velho, em sua sabedoria, responde: "Besouro, morrer é ficar debaixo da bota dos outros".
Mas há a outra dimensão do povo-inseto. A revolução árabe - não diziam que as revoluções eram coisa do passado? - mostraram isso a quem quis ver. Se há unidade de objetivos, coragem e luta, o povo-barata pode evoluir, rapidamente, para um tipo diferente de inseto, como por exemplo, o inchú.
Ah, amigos! Quando o povo-inchú se assanha, não há nada, absolutamente nada que possa pará-lo.

Comissão do senado aprova o voto em lista fechada: em uibaí diminuiria o assédio do candidato ao eleitor?


Angeli

Com um placar apertado – 9 a 7— a comissão de reforma política do Senado aprovou o sistema eleitoral de lista fechada.

Trata-se de uma sistemática que retira do eleitor o direito de votar nos candidatos de sua preferência nas eleições para deputados –estadual e federal— e vereadores.

O cidadão fica obrigado a votar num partido político. Serão eleitos os candidatos levados a uma lista pela legenda, na ordem que ela indicar.

O número de eleitos de cada partido dependerá da quantidade de votos que a agremiação conseguir capturar na eleição.

O resultado foi uma vitória parcial do PT, maior defensor do voto em lista. O êxito é parcial porque a coisa precisa ser aprovada nos plenários da Câmara e do Senado.

O modelo atual, embora imperfeito, homenageia a vontade da bugrada, não dos mandachuvas dos partidos.

Hoje, o sujeito escolhe os nomes que bem entende. Por vezes, vota-se em Tiririca (PR-SP) e elege-se junto Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Daí a imperfeição.

O risco é maior, porém, no modelo aprovado na comissão de sábios do Senado. Flerta-se com a hipótese de votar no PT e eleger mensaleiros empilhados numa lista.

Na sessão desta terça, concorreu com o voto em lista um sistema apelidado de “distritão”, preferido por sete dos presentes.

Consiste no seguinte: cada Estado é tomado como um grande distrito. Elegem-se os candidatos mais votados em cada "distritão".

Funcionaria como nas atuais eleições majoritárias –para prefeito, governador, senador e presidente da República. Tem a vantagem de eliminar o veneno do puxador de votos.

Cada candidato dependeria apenas dos votos que fosse capaz de seduzir. O prestígio de Tiririca não seria transferido a Protógenes.

Deveu-se sobretudo à omissão do PSDB a derrota do “distritão”. Havia três tucanos na sessão da comissão de reforma política.

Numa primeira rodada de votação, Aécio Neves (MG), Lúcia Vânia (GO) e Aloysio Nunes (SP) posicionaram-se a favor do voto “distrital misto”.

No segundo e decisivo embate –voto em lista X distritão— a tróica de tucanos preferiu escalar o muro da abstenção.

EXTRAÍDO DO BLOG DE JOSIAS SOUSA

27 de mar. de 2011

Muito além do "Canabrava do Gonçalo"


Acreditamos que só existe transformação social a partir da democratização dos conhecimentos, em suas mais diversas formas. Não entraremos aqui em discussão sobre o valor maior ou menor deste ou daquele tipo de conhecimento. O objetivo aqui é meramente informativo. Ora, existe uma produção intelectual sobre a nossa região - e sobre Uibaí - que já existe há um certo tempo e que tem ganhado fôlego. Aqui, divulgaremos algumas referências de trabalhos mais ligados à área de história. Tem muito mais. Aproveitem e procurem.

Lembrando de Bertold Bretch

AO COMANDO!

Aprenda o mais simples!

Para aqueles cuja hora chegou,

nunca é tarde demais!

Aprenda o ABC; não basta,

mas aprenda! Não desanime!

Comece! É preciso saber tudo!

Você tem que assumir o comando!

Aprenda, homem no asilo!

Aprenda, homem na prisão!

Aprenda, mulher na cozinha!

Aprenda, ancião!

Você tem que assumir o comando!

Freqüente a escola, você que não tem casa!

Adquira conhecimento, você que sente frio!

Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.

Você tem que assumir o comando!

Não se envergonhe de perguntar, camarada!

Não se deixe convencer.

Veja com seus olhos!

Aquele que não sabe por conta própria

não sabe.

Verifique a conta:

É você quem vai pagar.

Ponha o dedo sobre cada item.

E pergunte: “o que é isso?”

Você tem que assumir o comando!

Bertrold Brecht

P.S.: A lista precisa ser acrescida de outros materiais. Por favor, nos ajudem a fazer uma lista de materiais "Para conhecer a Uibaí"


Trabalhos acadêmicos

FERREIRA, Elisangela Oliveira. Entre vazantes, caatingas e serras: trajetórias familiares e uso social do espaço no sertão do São Francisco, no século XIX. (Tese de doutoramento em História). Salvador: UFBA, 2008.

LEITE, Jedean Gomes. “Terra do frio”, coronéis de “sangue quente”? Política, poder e alianças em Morro do Chapéu (1919-1926). Dissertação de Mestrado (História). Feira de Santana: UEFS, 2009.

MARTINS, Daiane D. Um flagelo no sertão baiano: cotidiano, migração e sobrevivência na seca de 1932. Dissertação de Mestrado (História Regional e Local). Santo Antônio de Jesus: UNEB, 2010.

MARTINS, Taiane Dantas. Caldeirão de Histórias: ocupação e povoamento de Caldeirão de Uibaí 1870-1950. Uibaí, 2007. 60 páginas digitadas.

MARTINS, Taiane Dantas. Da enxada ao clavinote: experiências, liberdade e relações familiares de escravizados no sertão baiano, Xique-Xique (1850-1888). Dissertação de Mestrado. Santo Antonio de Jesus: UNEB, 2010.

MARTINS, Taiane Dantas. Viver para parir, labutar pra não morrer: trabalhadoras rurais na década de 1950, Vila de Uibaí, município de Xique-Xique. Monografia de Especialização (História: cultura urbana e memória). Jacobina: UNEB, 2008.

SODRÉ, Maria Dorath Bento. “Até onde justo for”: Arranjos e conflitos pela propriedade e posse da terra (Macaúbas, 1850). Monografia de Pós-Graduação em Teoria e Metodologia da História. Feira de Santana: UEFS, 1999.

WILKINSON, John. O Estado, a agroindústria e a pequena produção. São Paulo/Salvador: Cepa-Ba/Hucitec, 1986.

Outros trabalhos

CUNEGUNDES, Jubilino. Morro do Chapéu. Salvador: Edição do autor, 1976.

DOURADO, Adélio. Família Dourado. Irecê: Edição do autor, 2003.

DUARTE, Adão Assunção. História de Central. São Paulo: 1978. mimeo.

LA BANCA, Reynaldo Jonatas. Irecê – BA: monografia história. capital do feijão e mamona. Lapão: Edição do autor, s.d.

LA BANCA, Reynaldo Jonatas. Uibaí: sua origem. Lagoa: sua descoberta. Hoje Presidente Dutra. Presidente Dutra: s.d. Trabalho na íntegra em http://presidentedutrabahia.blogspot.com/

MACHADO NETO, Cassimiro. Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique-Chique (História de Chique-Chique). Xique-Xique: Edição do autor, 1999.

MACHADO, Cecília. São Gabriel: memórias e lembranças. Irecê: Print Fox, 2004.

MARTINS SOBRINHO, Joaquim. História de Traíras. [22 pag. dig.]. Uibaí, 1991

NOVAES, Edemício Carvalho. Árvore genealógica de um povo. Histórias e causos. Presidente Dutra: Edição do autor, 1999.

PAIVA, Pita. Um conto de cada canto. Irecê: Iagrapael, 2009.

PEREIRA, João Purcino; PEREIRA, Leonellea. Terra dos arcanjos: historiografia da cidade de São Gabriel. Irecê: Print Fox, 2010.

ROCHA, Geraldo. O rio São Francisco. Fator precípuo da existência do Brasil. 4 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004.

ROCHA, Osvaldo Alencar; MACHADO, Edimário Oliveira. Canabrava do Gonçalo: uma vila do baixo-médio São Francisco. Brasília: Edição dos autores, 1988.

RUBEM, Jackson. Irecê: história, casos e lendas. Irecê: Print Fox, 2001.

RUBEM, Jackson. Lapão: cem anos de história. Irecê: Print Fox, 2010.

SAMPAIO, Theodoro. O rio São Francisco e a Chapada Diamantina. Salvador: Progresso, 1955.

SANTANA, Adelmo. Origem das primeiras vilas. Digitado. Central: 1998.

SILVA, Rigner Carneiro da. Biografia. Central: manuscrito, 1971.

SILVA, Rigner Carneiro da. Primeiro livro geral de morte de todas as pessoas/História da cidade de São Gabriel. Central: manuscrito, 1989.

ZEHNTNER, Léo. Estudos sobre as maniçobas do Estado da Bahia, em relação ao problema das secas. Rio de Janeiro: Ministério de Viação e Obras Públicas-Inspectoria de Obras Contra as Secas, 1914.

Projeto para Uibaí


O Movimento Vicente Veloso em sua fase de reorganização propõe a construção coletiva e democrática de um projeto político popular de município. A discussão está em fase inicial e visa a elaboração de algumas propostas de intervenção e transformação da realidade em busca de uma alternativa ao modelo destrutivo-autoritário-excludente que está posto.
Para fomentar a discussão e reflexão, estamos publicando um documento da Associação dos Estudantes Universitários e Secundaristas de Uibaí, de 2007 e que contem algumas premissas interessantes (algumas, visionárias).
A discussão está aberta.



  1. Construir um projeto de desenvolvimento social da agricultura em nossa região;

Há um círculo vicioso em nossa região na relação entre política e economia: a pobreza da população trabalhadora é utilizada pelos políticos nas eleições: trocam-se votos por feijão, arroz, cachaça, remédios. A política autoritária, excludente, conservadora e violenta se sustenta na pobreza e na exploração dos trabalhadores e precisa conservar esta para se conservar. A política precisa da pobreza. Como a política é um negócio, o dinheiro investido nas eleições precisa ser retomado com margens escandalosas de lucro durante a gestão. Assim, sem investimentos infra-estruturais, sem projeto de governo – porque o governo é um projeto pessoal de enriquecimento e poder – a economia fica a deriva da concorrência externa que é selvagem. A economia local trava, não se desenvolve, não gera renda nem postos de emprego e amplia a miséria, a mendicância. Sem meios de vender sua força de trabalho, a população trabalhadora fica sujeita aos ricos com consciência social, ao assistencialismo, aos programas do Estado e à rapina dos políticos. Portanto, faz-se extremamente necessário libertar os jovens, as mulheres e os homens que vivem do trabalho no campo e na cidade da pobreza e da dependência em relação aos políticos. Isso só é possível através de um projeto de desenvolvimento da agricultura em nossa região capaz de fortalecer a agricultura familiar, estimular o cooperativismo e criar postos de trabalho para os jovens.

  1. Reconstruir o Grupo de Cidadania de Uibaí;

A cidadania é um conceito liberal da Teoria do Estado que é usada largamente na política. Segundo essa teoria, o Estado existe para garantir o bem-comum, evitar a guerra de todos contra todos e proteger a propriedade, a liberdade e a democracia. O Estado (composto pelas policias, Forças Armadas, Poder Judiciário, Poder Legislativo, Poder Executivo, Educação Pública, Saúde Pública, Sistema Carcerário, etc.) tem por função proteger os cidadãos. Cada cidadão tem direitos e deveres para com o Estado. Essa teoria mascara a realidade. Na verdade, o Estado existe para evitar que as classes sociais (burguesia, trabalhadores, classe média) se destruam, ou melhor, para evitar que as classes sociais que estão sendo exploradas e oprimidas pelas classes dominantes se revoltem. Não existem cidadãos. Existem classes sociais. O Estado protege a classe dominante (as que tem propriedade, as que tem posses, as que tem bens) e reprime e disciplina as camadas populares. Por isso, Polícia, Cadeia, Condenações, Péssima Educação e Saúde Públicas são para os trabalhadores. Vinhos caros, cargos no Senado, no Congresso, nos Ministérios, Carros de Luxo, Viagens, Férias são para as classes dominantes. Contudo, a prática mostrou que o Grupo de Cidadania foi muito importante em Uibaí para conscientizar seus participantes e a população em geral. A sua experiência mostra que os trabalhadores precisam se mobilizar para conquistar seus direitos, que é preciso muita paciência e perseverança para conquistar os objetivos coletivos. A sua experiência mostra que o Estado é uma forma de opressão das camadas populares, mas que é preciso lutar contra ele por dentro e por fora dele. Portanto, é preciso apoiar as iniciativas de rearticulação do Grupo de Cidadania de Uibaí.

  1. Movimento de luta pelos direitos trabalhistas dos servidores municipais;

A libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores” Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), revolucionários alemães

O revolucionário italiano Antonio Gramsci (1891-1937) dizia que a democracia em seu país era uma farsa. Porque deram o direito ao voto aos trabalhadores rurais, mas não deram terra. Sem terra os trabalhadores não tinham liberdade política e dependiam de quem tinha terra para escolher seu voto. Em nossa região acontece algo semelhante. Houve uma mudança. O concurso público criou um corpo municipal de funcionários que tem liberdade política. Vivem de seu próprio trabalho e não precisam dar satisfação do que pensam sobre a política. Assim, eles têm condições mais favoráveis para lutar por seus direitos. É fundamental apoiar as lutas por direitos que surgirão. Para isso apoiaremos as iniciativas de organização de uma associação em defesa dos direitos trabalhistas dos servidores municipais.

  1. Formação de lideranças populares;

Sem teoria revolucionária não existe movimento revolucionário” Lênin, revolucionário russo (1871-1924)

O acesso às Universidades propiciado através das Casas de Estudantes de Uibaí permitiu a muitos jovens das camadas trabalhadoras de Uibaí a formação profissional. Mas também foi importante enquanto espaço de formação política e teórica. A teoria é a reflexão sobre a prática. A prática é a intervenção do ser humano no mundo. Toda teoria é uma prática e toda prática implica numa teoria. Teoria sem prática é palavrismo. Prática sem teoria é voluntarismo. Ou seja, muitas vezes, ter boas intenções, mas encurtar o caminho do inferno. As teorias estão em toda parte. Há teoria nos ditados populares, nos causos, na sabedoria popular, na religião popular... há teoria até mesmo na Universidade. Nas Universidades há conhecimentos que não são fáceis de se adquirir, mas que podem ser muito úteis para os trabalhadores nos seu dia-a-dia e o destino final da teoria deve ser a prática. Por isso, é fundamental estruturar ao lado dos movimentos sociais, do sindicato, das associações comunitárias, paróquia, igrejas e quem mais tiver interessado um curso de formação de lideranças populares. Não se vão formar líderes. Mas oferecer aos líderes populares já existentes teorias que eles até então não tiveram um acesso mais sistemático. É espalhar conhecimento para que os trabalhadores usem essa arma a seu favor. Estudar, sistematicamente, histórias das lutas sociais, questão agrária brasileira, cultura brasileira, Estado, movimentos sociais, etc.

Aeusu gestão 2007-2008 Participação e Luta!

8 de outubro de 2007

RRaça não existe. Coelhinho da Páscoa também não

O DEM se manifestou contrário ao princípio de cotas. Novamente. Disse, em nota, que isso fere a igualdade e corrobora para o racismo, uma vez que a divisão da humanidade em raça não existe.

Da mesma forma, não existe a divisão natural da humanidade em ricos e pobres. Muito menos é característica intrínseca à espécie alguém viver da exploração do trabalho do seu semelhante. Creio também que não está escrito em nosso código genético: “tu, iluminado, terás 150 mil hectares de terra” e “tu, boçal, não terás nada além da cova pro teu defunto”. Não há um estudo honesto que aponte relação entre inteligência e cor de pele. Ou uma alguma razão biológica que faça alguns preferirem caviar enquanto outros curtem mesmo um bom acém com osso.

Se essas diferenças não vêm de fábrica, porque é que elas teimam em acontecer?

Ignorar um problema gerado pela ação do próprio ser humano não faz ele desaparecer. Confiar no mito da democracia racial brasileira, construído para servir a propósitos, é tão risível quanto ser adulto e esperar um mamífero entregador de chocolate ou caçar um homem barbudo com saco vermelho. Realmente, negros e brancos deveriam ser tratados como iguais uma vez que são iguais. Mas, historicamente, a eles não foi dado o mesmo tratamento. Encarar pessoas com níveis de direitos diferentes como iguais é manter o nosso bizarro status quo.

Lembrando que, em março do ano passado, durante audiência no Supremo Tribunal Federal para discutir o sistema de cotas em universidades públicas, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) praticamente afirmou que escravas negras não foram violentadas pelos patrões brancos, afinal de contas “isso se deu de forma muito mais consensual” e “levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social” de hoje. Que no dia seguinte à sua libertação, os escravos “eram cidadãoz como outro qualquer, com todos os direitos políticos e o mesmo grau de elegibilidade” – mesmo sem nenhuma política de inserção aplicada.

Se considerarmos que esse discurso feito em nome da igualdade não é um ataque à reserva de vagas para afrodescendentes e sim uma defesa da elite política e econômica que controlou a escravidão no país e que, com algumas mudanças e adaptações, desembocou em setores do próprio DEM, é tudo muito compreensível.

O Brasil ainda não foi capaz de garantir que os filhos dos libertos fossem tratados com o respeito que seres humanos e cidadãos mereciam, no campo ou na cidade. Herança maldita presente na sociedade. E mantida viva por discursos e justificativas como esses. Tudo tratado com a maior naturalidade.

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25 de mar. de 2011

A agonia da Serra Azul


Acima: Barragem Manoel Novaes (Mirorós) e queimada no Brejinho.

Quem quiser pagar o preço de andar por uma hora pisando a areia solta da serra poderá assistir ao último grande espetáculo exibido no teatro de horrores em que se tornou a Serra Azul. Se você for lá, assistirá ao último ato produzido pela inteligência e a racionalidade humana. Aqui há um milhão de árvores queimadas, pensei assim que vi a paisagem. Mas não se pode fazer uma estimativa razoável, pois grande quantidade delas desapareceu no ar em forma de cinzas. O fogo as consumiu até o nível do solo abrindo grandes clareiras. Dá pra ver árvores inteiras desenhadas na areia pelas cinzas de seus galhos. Você pode ver também uma árvore de cinco metros derretendo na areia quente – os cactos, pela grande quantidade de líquidos na sua estrutura, não se incineram, derretem lentamente.

Pode ainda andar por muito tempo entre as árvores carbonizadas que agora compõem a silenciosa floresta de carvão que margeia o lado norte do vale por onde corre o Riacho do Brejinho. Quero lembrar que o Riacho do Brejinho deságua no Rio verde que é afluente do rio São Francisco. Esta queimada aconteceu durante o período de reprodução de muitos pássaros que ainda sobrevivem na Serra Azul. Então, foi impossível não imaginar a agonia dos filhotes de aves sendo assados vivos sem a menor chance de defesa. Mas não foram só eles que pagaram com a vida. Numa queimada assim milhares de pequenos animais são queimados vivos, sem falar nos milhões de insetos. Todos fundamentais para ploriferação e manutenção das espécies vegetais ali existentes.

Segundo proprietários de roças no trecho, a área queimada é de aproximadamente duzentas tarefas, pequena se comparada à maior já feita na serra, que em 2008 queimou desde a Chapada até a Água Quente, podendo ter passado dos cem quilômetros quadrados. Antes que eu me esqueça: o motivo nobre do espetáculo foi a preparação de uma área de cerca de quatro tarefas para pastagem e criação de gado. O mandante recusou-se a pagar para fazer o acero - que evita o alastramento do fogo.

Uibaí já foi considerada a cidade mais rica em água doce da região de Irecê. Fornecia água para o desenvolvimento de Irecê e outras cidades do entorno. Foi ainda a primeira cidade de toda a região a dispor de água tratada, isto na década de cinqüenta. Mas não soube e nem quis preservar esta riqueza. A década de noventa marcou o início da agonia da Serra Azul e, por conseqüência, da população da cidade de Uibaí no período das chuvas, embora raramente se estabeleça esta relação. Enquanto a serra agonizava com os desmatamentos que se alastravam dentro da bacia do Riacho Canabrava, a população agonizava com a falta de água decorrente do aterramento da barragem e entupimento das tubulações pela areia e lama trazidas pelas chuvas das áreas desmatadas.

Quando no ano de 2000 a água de Mirorós chegou a Uibaí acabando com o sofrimento do desabastecimento no período das chuvas, todos pensaram que havia chegado a solução definitiva para o problema da falta d’água. Porem, antes mesmo que acabasse a década, o seria solução definitiva revelou-se nada mais que o mensageiro de uma tragédia muito maior: o sistema de Mirorós está entrando num colapso aparentemente irreversível. As causas deste colapso? Desmatamentos dentro da bacia do Rio Verde, o que levou a drástica redução da vazão dos córregos que alimentam o rio. Desmatamentos como aquele do Brejinho.

A CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do São Francisco), proprietária da barragem de Mirorós e administradora do sistema tentou priorizar o abastecimento humano eliminando o fornecimento da água para uso agrícola no Projeto de Irrigação de Mirorós, que consome a maior parte de toda a água da Barragem. Os empresários e irrigantes do projeto reagiram violentamente ameaçando explodir a barragem. A CODEVASF recuou. As ameaças continuam, agora mais realistas, voltadas para a adutora do feijão que distribui toda a água da região.

Será que a guerra pela água, anunciada por muitos cientistas políticos como a mais importante do século 21, está chegando pra nós? Neste cenário de ameaças a nova promessa de solução definitiva vem do Rio São Francisco. A adutora que trará suas águas para abastecer Irecê e grande parte da região está iniciada e parada, sem recursos para continuar. Então haverá tempo para que ela seja concluída antes do colapso total de Mirorós? E quando ela estiver pronta, por quanto tempo o Rio São Francisco poderá nos abastecer?

Um dia o Rio Verde foi solução definitiva para o povo de Uibaí, agora o Rio São Francisco é prometido como a solução definitiva para o povo da região de Irecê. É bom saber que toda a bacia do São Francisco está sendo arrebentada como foi o Rio Verde e o Riacho Canabrava. Inclusive, só pra que você não se esqueça, a queimada do Brejinho está dentro da sub-bacia do São Francisco e de lá se pode ver a barragem de Mirorós, a ex-solução definitiva para nós.

Publicado em A Indaga, número 5 de fevereiro de 2011

24 de mar. de 2011

A biblioteca


Não há muito tempo, neste mesmo jornal apareceu um texto versando sobre um assunto que eu sempre soube que não seria lido com a mesma atenção que outros mais amplamente debatidos no cotidiano da maioria das pessoas. Seria muita ingenuidade pensar que tão logo um mísero texto pudesse reavivar um valor há tanto tempo obscurecido, uma prática há tanto tempo abandonada, um ambiente há muito esquecido. À biblioteca falta muito ainda para ser tema de discussão acirrada no nosso município, por mais que aqui haja professores, alunos, autodidatas, ou simplesmente pessoas que encontram no livro um expediente de divertimento e de prazer. Parafraseando o que já disse Lacan sobre as mulheres: A biblioteca não existe!. Não é visitada, não é discutida, não é respeitada. Não querem saber dela o poder público, os estudantes a ignoram, os munícipes de um modo geral a desprezam. Como não? Não é por acaso que as coisas só têm o valor que nós damos a elas, não o damos e as coisas não valem nada.

Eu acho interessante falar sobre o assunto, isso é óbvio, pois senão não estariam lendo uma reminiscência de outro texto sobre o mesmo tema. O mais instigante é que a biblioteca que com ela agrega outros valores para a sua discussão como cultura, leitura, intelectualidade e saber, é aquele tipo de assunto que ninguém com algum juízo, pode “fazer pouco” numa conversa, ninguém em sã consciência chamaria de estupor, de bestagem a idéia de alguém sobre o assunto em público, no entanto é aquele tipo de assunto que as pessoas torcem na verdade para que ninguém toque, que ninguém se refira, que fique ali quieto, escondido. Quem ousa falar, mesmo que sob olhares de ódio encarnado, não ouve senão palavras de referência e grandiloquência sobre o quão importante, aliás, mais que importante, essencial para a vida humana, de homens racionais e inteligentes, de cidadãos conscientes, portanto. “Essencial”! “É preciso fazer algo.” “Uibaí, terra de gente inteligente, não pode viver uma situação assim” são expressões que provavelmente se ouve com facilidade. Balela.

Soube eu que a repercussão do outro texto gerou da boca de pessoas ligadas diretamente ao órgão do poder público responsável pela sua manutenção senão frases como essas algumas equivalentes em sentido, mas e aí? Será que muitas das reivindicações e questionamentos feitos no outro texto ainda são válidos hoje? Seriam, pois, mais válidos ainda? Teria inacreditavelmente piorado a situação deplorável do trato com os livros, da importância da leitura (tanto e tanto bradada da boca pra fora nos corredores das escolas), da situação desse ambiente que além de fundamental é simbólico na história de seres pensantes? Claro que sim. Difícil de admitir, mas, piorou, piorou por que não adianta o que se diga ou prometa, tudo permanece como antes, e, aqui vou eu reavivar a velha ladainha do outro texto: Uibaí tem uma biblioteca municipal de dar vergonha a qualquer gestor, cidadão ou estudante. As bibliotecas escolares não recebem nem a infinitésima parte da importância devida para a sua relevância na formação dos alunos. Quem se importa com os acervos tem desgosto de ver de perto os empréstimos feitos sem nenhum critério, o cuidado (a falta dele) com armazenamento e organização que faz parte da prática comum das escolas. E reforço: em Uibaí, as pessoas selecionadas para trabalhar nas bibliotecas passam por um que se não irreal é um critério muito negligente. Descrevamos isso por partes: O ideal seria o que todos sabemos ser muito difícil, ou seja, alguém formado em biblioteconomia, que tem o conhecimento necessário da prática de cuidado, organização, catalogação dos livros e outros tipos de impressos. Não, não é alguém assim, pois além da formação ser pouco comum na nossa região seria praticamente um exagero pedir isso para cada biblioteca escolar. Então vamos adiante, que fosse alguém que tem um interesse claro pelo assunto, aquele que mesmo sem a formação adequada conhece e visivelmente faria um bom trabalho por ter real consciência da importância dele, uma pessoa assim precisaria no máximo de uma formação técnica que poderia ser provida pela prefeitura para conhecer os parâmetros técnicos básicos de organização, cuidado e manejo de software específico para a área. Mas, hum... também não é alguém assim que trabalha nesses ambientes e é aí que chegamos ao critério. Bingo!! O critério é que não há critério. Sem querer desmerecer as capacidade de quem hoje ocupa esses cargos, mas minha crítica se dirige para quem escolhe, quem tem a possibilidade de contratar que é o PODER PÚBLICO. Se contratam um coveiro prum cargo de médico de quem é a culpa? dele que quer ter um emprego, sustentar a família ou da administração que deveria zelar para que as pessoas tivessem bons médicos e boa saúde?, mas isso é real, dá pra acreditar? Pois acredite meu caro leitor, e sabe onde isso acontece? Naquele município do pé da serra tão apregoado por aí como terra de “gente inteligente”, de gente que passa em concursos, terra de gente que engrossa as listas de aprovados nos vestibulares nas melhores posições por todo o país. Acredite, por mais absurdo que seja, é aqui.

Se querem saber realmente, eu digo sem pesar que o que eu gostaria mesmo de presenciar é utópico, para expressar isso faço minhas a palavras de eco, pois o que eu queria era que

Se a biblioteca é, como pretende Borges, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num universo à medida do homem e, volto a recordar, à medida do homem quer também dizer alegre, com a possibilidade de se tomar um café, com a possibilidade de dois estudantes numa tarde se sentarem num maple(banco de madeira) e, não digo de se entregarem a um amplexo indecente, mas de consumarem parte do seu flirt (tempo livre de lazer) na biblioteca, enquanto retiram ou voltam a pôr nas estantes alguns livros de interesse científico, isto é, uma biblioteca onde apeteça ir, e que se vá transformando gradualmente numa grande máquina de tempos livres. (ECO, 1987)

Mas será que vendo toda a dificuldade de tornar esse sonho real, seria exagero querer que não seja ela a marca mais cálida do abandono e do descaso numa cidade tão cheia de pompa, por ser referência em conhecimento e inteligência?

Pensemos nisso.