31 de ago. de 2010

2009: Novo tempo mesmo?


Esse texto foi publicado em janeiro de 2010 no A Indaga nº 03.

1. Não existe “crítica construtiva”. Xingamento, ataque pessoal, baixaria não constituem crítica. Isso é coisa de gente que não tem argumento. Porém, a crítica, mesmo, é a análise da realidade e seu compromisso é com a verdade. Mas as pessoas usam “crítica construtiva” quando esperam benevolência, conivência. Podem tirar o cavalo da chuva, que aqui não se vai passar a mão na cabeça de ninguém.

2. A política local se resume à briga entre alguns grupos.

a) Burocracia carlista. Conjunto de políticos profissionais seguidos por puxa-sacos e outras pessoas que vivem de empregos de confiança e empresários que tem seus negócios favorecidos ou dependentes da corrupção municipal e do favorecimento pessoal. Eles formam um bloco que esteve no poder desde que a Prefeitura tornou-se a vaca azul com generosas tetas – isso acontece por volta do fim dos anos 1960. Os chefes desse grupo enriqueceram muito graças à corrupção do dinheiro público e ao favorecimento de seus negócios privados. São cobras criadas por Antônio Carlos Magalhães que dizia que vencia eleição na Bahia com “dinheiro em uma mão e chicote na outra”. Esse grupo só merece um lugar: a lata de lixo da história.

b) Esquerda. Começou em 1976 na campanha para prefeito de Osvaldo Alencar, pelo Movimento Democrático Brasileiro. Continuou com a candidatura de Bernadete Alves em 1982 contra Hamilton e Dorival. Na década de 1980, há a oposição realizada pelos estudantes da CEU, CEUBRAS, por estudantes secundaristas e, sobretudo, por trabalhadores rurais em organizações como a Associação Beneficente do Caldeirão. Ela consolida-se com a fundação municipal do Partido dos Trabalhadores – no tempo que esse era um partido de esquerda. Atuando no campo, nas casas de estudantes, no movimento cultural e nas eleições municipais, ela nunca conseguiu lançar candidatos fortes para a Prefeitura.

c) Frente de libertação e reconstrução. A história é muita esperta. No fim do século temos a criação de uma terceira força política: seus organizadores, em sua maioria vieram da esquerda e ela foi capaz de atrair cabos eleitorais, lideranças locais e base eleitoral que pertencia anteriormente à burocracia carlista. Dessa síntese, nasceu a Frente de Libertação e Reconstrução de Uibaí, algo absolutamente novo. Propondo um capitalismo ético, uma gestão moderna e com uma retórica de honestidade burguesa, o terceiro grupo liderado por Pedro Rocha trouxe aos partidos de esquerda a possibilidade de ganhar uma eleição e transformar o município. Não era possível realizar esse projeto: na sociedade capitalista, dentro das regras do Estado capitalista, não existe política eleitoral limpa, muito menos honestidade. Eleição tem que ser ganha com ilusões e muito dinheiro, mas muito dinheiro mesmo.

3. Ao chegar ao governo, em 2009, o grupo de Pedro Rocha, sustentado pela classe média universitária, herdou os piores vícios da burocracia carlista. E não foi capaz de realizar as utopias da esquerda: partes do governo são paralisadas pela incapacidade de mobilização popular em vários aspectos. O mais sério deles é o movimento estudantil que está morto! A massa popular permanece desconfiada e crítica do poder e dos ricos e espera uma esmola à qual agradecem com puxa-saquismo e covardia. É como querer capinar a terra com um facão que só serve para maltratar quem nela trabalha.

4. Assim, temos um governo popular sem povo, ou pelo menos, com este desmobilizado e fazendo fila na Prefeitura para conseguir um emprego. E no meio, a pequena burguesia universitária não realiza a utopia dos tempos das vacas gordas da esquerda e nem se perde a imoralidade e os maus costumes da burocracia carlista. Governo sem identidade que não sabe mais se é de esquerda ou de direita. Governo que quer ser popular, mas não tem povo. Esse será o destino de todos os governos que querem mudar as coisas a partir de cima. É impossível.

Movimento Vicente Veloso

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